quarta-feira, 31 de maio de 2017

Por que luto apaixonadamente pela Prevenção do Suicídio?

"Se a vida de alguém é tão horrível a ponto de querer morrer, por que impedi-lo?"
Muitas vezes me fazem essa pergunta ou alguma variação desta questão. Pois bem, devo já ir dizendo que sou um apaixonado pela prevenção do suicídio. Eu sei que minha posição muitas vezes desencadeia a contrariedade de alguns que pensam que as pessoas deveriam ter o direito de acabar com sua própria vida sem interferência de outros bem-intencionados. Entretanto, em minha opinião, existem muitas razões para impedir alguém de suicídio.
O motivo mais importante para evitar o suicídio é que as crises suicidas, embora terríveis ​​e dolorosas, são quase sempre temporárias. Considere que 90% das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio não morrerão por suicídio. Repito: 90% das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio não virão a morrer por suicídio. Esse número é muito revelador. Mesmo entre as pessoas que desejaram morrer tão fortemente a ponto de tentar acabar com suas vidas, a maioria vai escolher viver.
Enquanto uma pessoa estiver viva, as coisas podem mudar para melhor. As situações mudam. E mesmo que sua situação externa seja imutável, é possível sim descobrir coisas que tornem sua vida digna de ser vivida. Existe sempre a possibilidade de encontrar formas de lidar com essa situação, ou é possível passar a apreciar coisas diferentes na vida. É possível até encontrar um propósito na vida que dê um significado a uma perda ou a um trauma sofrido.
Kevin Hines é um defensor da prevenção do suicídio que, anos atrás, saltou da Ponte Golden Gate, o local em que vem ocorrendo a cada ano a maioria dos suicídios nos Estados Unidos. A morte é quase certa quando se pula da ponte. É sabido que mais de 1.500 pessoas já pularam, e apenas 30 ou mais são conhecidas por terem sobrevivido. Então, quando Kevin pulou da Ponte Golden Gate, ele estava absolutamente decidido a morrer. E, no entanto, mesmo com essa intenção, no momento em que ele pulou da ponte, ele se arrependeu instantaneamente de sua decisão.
Sua experiência é uma das muita que ilustra que o desejo de morrer é fluido. Vem e vai. Vem e vai em graus variados. A grande maioria das pessoas que são salvas do suicídio ficam agradecidas, mais cedo ou mais tarde, por estarem vivas.
Outra razão importante para evitar o suicídio é porque, apesar do que afirmam os defensores do suicídio racional, em quase todos os casos, o suicídio é um ato decididamente irracional. A pesquisa indica consistentemente que 90% das pessoas que morrem por suicídio estavam com uma doença mental diagnosticável e possível de ser tratada no momento da morte. A doença mental distorce o pensamento. O que é ruim pode tornar-se bom e vice-versa. Muitas vezes, mas muitas vezes mesmo, quando a saúde mental de uma pessoa melhora, o desejo de morrer desaparece por completo.
Algumas pessoas contestam as altas estimativas de doenças mentais no suicídio. Mas ainda que presumamos que nem todos os que morrem pelo suicídio tenham uma doença mental, temos que considerar que outras coisas além da doença mental também podem distorcer profundamente o pensamento de alguém, como uso de substâncias, a privação de sono e uma experiência traumática.
Muitas pessoas que abordam essas questões reconhecem que também já consideraram seriamente o suicídio ou fizeram uma tentativa, mas atravessaram essa difícil fase e hoje se juntam, numa comunidade de esperança, para contar sobre isso.





Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra.



Texto original:  Why Prevent Suicide? Here Are My Reasons. Written by  Stacey Freedenthal, PhD, LCSW  /  http://www.speakingofsuicide.com/2013/05/19/why-stop-someone-from-suicide/




Texto livremente traduzido e adaptado.



sexta-feira, 19 de maio de 2017

Carta de um psicólogo para uma pessoa suicida



Quando você vem me pedir ajuda, eu quero te ajudar.
E espero que você me deixe.
Eu não posso conhecer seus segredos sem que você me conte.
Espero que você me diga.
Fale pra mim, por favor, sobre seus pensamentos suicidas.

Você pode sentir medo de me dizer
Quando eu pergunto se você está pensando em suicídio.
Vou tentar te ajudar a se sentir seguro:
Eu não vou julgar você.
Não vou te interrogar.
Não vou entrar em pânico.
Eu escutarei suavemente enquanto você conta sua história
Em suas próprias palavras, no seu próprio tempo,
Do seu próprio modo.

O suicídio pode te dizer para não me dizer nada.
O suicídio pode dizer que eu sou seu inimigo.
O suicídio mente.
O suicídio pode dizer que ninguém poderá te ajudar,
Que morrer é a única maneira de acabar com sua dor.
O suicídio pode até dizer que você é uma pessoa inútil
Com defeitos, não merecendo a vida.
Não merecendo amor, ou esperança, ou compaixão.

Por favor, fale comigo.
Eu não posso ajudá-lo a lutar contra um inimigo
Se você não me falar sobre esse inimigo,
O inimigo que está tentando te matar.
Não confie em seus pensamentos suicidas.
Eles não são racionais.
São um sintoma, um sinal, um grito de dentro.
Algo  dentro de você precisa de cura.
Cura, não autoextermínio.

 Diga-me, por favor, o que o suicídio te diz.
Ele diz apenas o que está errado com sua vida?
Apenas o que há de errado com  você?
O suicídio tenta enganar a verdade,
Dizendo apenas as meias verdades que fazem você querer morrer
Escondendo as verdades que fazem você querer viver:
Os fragmentos de esperança.
Os caminhos para a cura.
As possibilidades.

Fale comigo, por favor.
Ou fale com outra pessoa.
Eu sou apenas uma das muitas pessoas que podem te ajudar.
Mas ninguém pode ajudar se você não falar com alguém.
Obrigado.
Um dia você vai agradecer, também.
Por falar.
Por sobreviver.

Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra.

Texto original:  Letter from a Therapist to a Suicidal Person,  by   / http://www.speakingofsuicide.com/2014/05/01/letter/



Texto livremente traduzido e adaptado.

terça-feira, 9 de maio de 2017

O suicídio levou meu avô e meu pai. Por que não me levou também?

Em algumas famílias, um relógio é passado de pai para filho. Em outros, é a calvície que é passada. No caso de Josh Rivedal, foi o suicídio: seu avô tirou sua própria vida na década de 1960, embora isso nunca tenha sido conversado abertamente na família, e seu pai fez o mesmo em 2009. Dois anos mais tarde, o próprio Rivedal, agora com 30 anos, quase seguiu o mesmo destino.
Mas, embora triste e incomum, a história de Rivedal não é única. Vários estudos têm mostrado que aqueles cujos membros da família, particularmente os pais, se mataram são mais propensos a morrer da mesma maneira. Os homens também estão em risco muito maior de suicídio do que as mulheres: os números mostram, por exemplo, que 78% por cento de todos os suicídios na Inglaterra e no País de Gales são do sexo masculino e que o suicídio é hoje a principal causa de morte para homens entre 20-45 anos.
O que aconteceu para que Rivedal não tivesse o mesmo fim? O que fez para não sucumbir ao suicídio que levou seu avô e seu pai? Ele procurou ajuda! 
"Não foi muito tempo depois que meu pai morreu e as coisas ficarem realmente difíceis com minha mãe - ela estava tentando processar a mim e a meus irmãos por causa de nossa herança - e minha namorada de vários anos me deixou", disse Rivedal, que cresceu em Trenton, Nova Jersey, lembrando do ocorrido.
"Eu senti como se tivesse perdido três pessoas ao mesmo tempo e comecei a pensar em morrer."
Sempre que o assunto da morte de seu avô - um norueguês chamado Haakon que emigrou no início da Primeira Guerra Mundial e serviu na Royal Air Force na Segunda – surgia em casa, o pai de Rivedal dizia que tinha sido causado por ferimentos de estilhaços. Foi somente quando ele era um adolescente que sua mãe revelou que seu avô tinha tirado sua própria vida 20 anos após o fim da guerra, perto de seu aniversário de 50 anos.
"Eu me lembro de fazer os cálculos e pensar - que deveria ter sido algum estilhaço muito estranho, para matá-lo 20 anos depois. Acho que ele estava sofrendo de transtorno de estresse pós-traumático, mas nunca foi educado para procurar ajuda por causa de todo esse estigma de que homem não fala de seus problemas emocionais."
O pai de Rivedal tirou a própria vida pouco depois que sua esposa decidiu terminar seu casamento de 30 anos. "Quando eu perdi meu pai, acho que ele estava lidando com a perda de seu próprio pai, e o fato de nunca ter falado sobre isso."
A decisão de procurar ajuda, em vez de seguir o caminho do suicídio, foi parcialmente, diz Rivedal, devido à sua personalidade: uma rebeldia que o empurrou para longe de seguir o caminho previsto para ele por seus antecessores do sexo masculino.
Como diz o Dr. Max Mackay James, de 63 anos de idade, um médico britânico aposentado e fundador de uma organização para a saúde masculina, The Conscious Ageing Trust, cujo trabalho está sendo divulgado por Rivedal, essa diferença de comportamento reflete uma diferença de gerações:
"Para nossos avós e pais era impossível conversar sobre problemas emocionais, mas no mundo de Rivedal e no mundo de meus filhos não deve haver nenhuma vergonha em falar sobre depressão e suicídio."
O Dr. Mackay James tem também sua própria história familiar de suicídio: tanto seu avô, um veterano da Primeira Guerra Mundial, e seu irmão tiraram suas próprias vidas. "Meu avô, Fred, se matou em 1940, mas nunca falamos sobre isso, fomos informados de que ele era um herói de guerra. Meu irmão nasceu três anos depois e também foi chamado Fred.
"Quando você é um garoto, você pode sentir quando algo está errado, quando as pessoas estão se comportando estranhamente. Nós não sabíamos o que era, mas sabíamos que havia algo assustador em torno da morte de nosso avô. Havia um silêncio à sua volta, nenhuma capacidade de comunicar. Não sabíamos nada sobre depressão. Então, quando meu irmão morreu por suicídio - quando eu tinha 21 anos e ele tinha 28 anos - nenhum de nós sabia o que dizer. ”
Ele sugere que o suicídio ocorre em famílias principalmente por causa de "modelagem emocional", em vez de genética. "Os homens com os quais você cresce são o seu modelo para a masculinidade. Você aprende que tem que ser tudo ou nada. Você ou é um homem forte ou é um fracasso total. Se você está falhando, então você não é nada, essa é a mensagem. Que mensagem de merda. "
Rivedal concorda: por causa do exemplo estabelecido por seu pai e avô, ele chegou a pensar no suicídio como um "método de enfrentamento de problemas - mas certamente não é".
O Conscious Ageing Trust incentiva os homens acima da idade de 50 anos a falar sobre temas relacionados à morte, incluindo o suicídio. O recém-publicado livro de Rivedal, The Gospel According to Josh , e uma peça de teatro do mesmo nome, têm objetivos semelhantes , mas têm encontrado maior audiência entre estudantes e homens com idade em torno dos 20 anos.
"Você realmente não precisa ser um especialista para falar sobre isso", diz Mackay James. "Você apenas tem que dizer como isso está afetando você. Um dos grandes mitos é que falar sobre suicídio pode incentivar a morrer. Não! É exatamente o contrário, falar sobre suicídio te ajudará a superar uma situação de crise. "



Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.





Texto original: 'Suicide claimed my father and grandfather, and almost took me' By Theo Merz / http://www.telegraph.co.uk/men/thinking-man/11240273/Suicide-claimed-my-father-and-grandfather-and-almost-took-me.html



Texto livremente traduzido e adaptado.