O
Dr. Bart Andrews tem uma das histórias mais empolgantes de alguém que eu
conheço na luta pela prevenção do suicídio. Ele é um psicólogo talentoso,
um batalhador enérgico de campanhas para a prevenção do suicídio e um
sobrevivente de tentativa de suicídio.
Dr.
Andrews e Sheila Hamilton, autores de “All the Things We Never Knew, Chasing
the Chaos of Mental Illness, ” explicam os resultados de um novo relatório cujos
dados demonstram aumentos das taxas de suicídio nos EUA ao longo de um período de
15 anos e que se acumulam para um aumento global indicando que o suicídio tem
subido para os mais altos níveis nesses últimos 30 anos.
As
taxas têm particularmente aumentado entre as mulheres e entre os americanos de
meia-idade.
A taxa de suicídio de mulheres de meia-idade, entre 45 e 64 anos, saltou 63% durante
o período do estudo (1999 -2014), enquanto aumentou 43% por cento para os
homens nessa faixa etária, o maior aumento para os homens de qualquer idade. A
taxa global de suicídio aumentou 24% entre 1999 e 2014, de acordo com o
National Center for Health Statistics, que lançou o estudo.
A
National Action Alliance for Suicide está desenvolvendo parcerias com líderes
em todo o país para implementar estratégias de prevenção do suicídio. Muitos
esforços de prevenção estão em curso para reduzir o suicídio através de contatos com as comunidades como de forma on-line também.
A Action Alliance nos lembra: Para cada pessoa
que morre por suicídio, há aproximadamente 278 pessoas que tiveram pensamentos
sérios sobre matar-se, e quase 60 que sobreviveram a uma tentativa de suicídio. Qual
a mensagem mais importante desses números: A esmagadora maioria dos
sobreviventes dão seguimento a suas vidas. Eles experimentam aterradores pensamentos
suicidas e se recuperam e passam a viver suas vidas, muitas vezes de forma mais
rica e gratificante. Precisamos nos concentrar mais nas histórias não
contadas de recuperação e superação. Este é o trabalho do Dr. Bart
Andrews e tantos defensores dedicados à prevenção do suicídio.
Texto original: A Psychologist/Suicide Attempt
Survivor Reacts to New U.S. Suicide Stats. Disponível em: http://www.huffingtonpost.com/sheila-hamilton/a-psychologist-and-suicid_b_9769338.html
Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, ligue para o número do CVV: 141 e, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra.
Alguns
comportamentos podem indicar que uma pessoa está em risco imediato de suicídio.
Os três
seguintes devem solicitar que você procure logo um profissional de saúde
mental.
Falar insistentemente sobre querer
morrer ou se matar.
Procurar uma maneira de matar a si
mesmo, como pesquisar na internet ou obter uma arma.
Falar que perdeu toda esperança ou que
não tem mais nenhuma razão para viver.
Risco Sério
Outros
comportamentos também podem indicar um risco sério - especialmente se o
comportamento é novo, aumentou e/ou parece relacionado a um evento doloroso, uma
perda (emprego, morte, separação de alguém significativo) ou mudança.
Falar que está sentindo uma dor
insuportável.
Falar sobre ser um fardo para os
outros.
Aumentar o uso de álcool ou drogas.
Estar muito ansioso ou agitado; comportando-se
imprudentemente.
Dormir muito pouco ou muito.
Evitar contatos ou sentir-se
isolado.
Mostrar muita raiva ou falar sobre querer
vingança.
Mostrar mudanças de humor extremas.
SPRC Suicide Prevention Resource Center
Texto original disponível em: http://www.sprc.org/about-suicide/warning-signs
Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, ligue para o número do CVV: 141 e, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra.
Olá Rosimeire, namoro a mais de um ano e venho passando por uma
situação extremamente difícil. Infelizmente ele fez várias coisas que me
aborreceram e me decepcionaram, porém quando falo em separação, ele ameaça se
matar com tiros e remédios. E realmente tentou. Voltei com ele por isso e estou
tendo que fingir amar e fazer declarações para que ele não se mate ou não tente
se matar. Me ameaçou se eu contar algo para alguém e não pode pedir ajuda de um
psicólogo devido ao seu serviço. Preciso de ajuda urgente. Não sei como agir e
nem o que fazer. Não quero mais ficar com ele. Estou com medo! Preciso de
ajuda!
Ele
está conseguindo te forçar a ficar com ele contra sua vontade, manipulando seu
medo e culpa. Ao reatar o namoro você provou para ele que esse jogo funciona e
que você está à mercê da manipulação dele.
Ao
manterem esse relacionamento vocês dois estão se privando de serem felizes.
Você, por estar presa em um namoro que não quer mais, com uma pessoa que você
não ama. E ele, por não procurar meios de superar essa obsessão, que também o
mantém preso a um sentimento e a um relacionamento nada saudável.
Ele
é responsável pelas alegrias e frustrações que passar ao longo da vida.
Momentos ruins e tristezas são inevitáveis. Você não tem como livrar ninguém de
desses momentos ruins que são inerentes à vida. Você não tem obrigação de ficar
ao lado de ninguém quando não quiser.
Lembre-se,
que o relacionamento chegou a este ponto em consequência de ações dos dois. Se
ele não conquistou/manteve seu amor isso é responsabilidade dele. Você mesma
diz que ele te decepcionou. Então, é preciso que ele enfrente as consequências
dessas ações. Ou seja, enfrente o fato de você não querer mais ficar ao lado
dele.
Não
é justo que você tenha que se sacrificar porque ele não sabe lidar com
frustrações. A responsabilidade de lutar pela própria felicidade é de cada um.
Você tem todo o direito de ser feliz, de entrar e sair de um relacionamento na
hora que desejar.
Uma
pessoa que está em risco de cometer suicídio passa por estágios de
desenvolvimento da ideia e do ato suicida. Essas pessoas dão sinais de que não
sentem mais vontade de viver. Sentimento de depressão, desamparo, desesperança
e desespero são sinais de que a pessoa realmente pensa em se matar.
Tentativas e ameaças
de suicídio não devem ser supervalorizas e nem ignoradas. Devem ser
interpretadas como um pedido de ajuda de alguém que está problemas emocionais.
Seja porque não quer mais viver, ou porque não sabe lidar com as dificuldades
da vida.
Se
ele tem intenção de se matar, isso quer dizer que ele está sofrendo muito, está
doente emocionalmente e precisa de ajuda. Mas, sozinha você não vai conseguir
livrá-lo disso. E nem será o fato de manter o namoro que irá fazer com ele se
recupere.
Você
menciona que ele não pode ir a um psicólogo por causa do trabalho dele. Tem
certeza disso? O acesso à saúde é um direito universal e não pode ser negado a
ninguém. Não conheço nenhuma forma de impedimento a tratamentos psicológicos
e/ou psiquiátricos. Busque se informar, é muito provável que essa informação
esteja incorreta.
Você
não precisa carregar toda essa situação sozinha, é muita coisa para uma única
pessoa. Tente conversar com pessoas em quem você confia e de quem gosta. Busque
ajuda psicológica para você. É possível que esteja sofrendo ainda mais do que
ele diante dessa situação. Procure um psicólogo para te orientar a como lidar
com isso. Se continuar sofrendo calada e sozinha é provável que você também
adoeça.
Se
você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas
neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou
psiquiatra.
Notícia
postado em 27/02/2017 no jornal Correio Braziliense sob o
título: Policias resgatam mulher que ameaçava se jogar da plataforma da
Rodoviária
"Um
policial militar impediu que uma moradora de rua se jogasse no Buraco do Tatu,
da plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, na manhã da última
segunda-feira (27/2). O tenente Wesley Eufrásio, 36 anos, conversou com a
mulher, a distraindo, até que que o sargento Cláudio Celestino pudesse
agarrá-la, impedindo o suicídio.
Segundo
o tenente, a mulher parecia estar sob influência de drogas na hora do ato. “Ela
não falava coisa com coisa, dizia que não era amada pela família e que seria um
alívio se morresse”, conta. Durante o diálogo, o tenente tentou ganhar a
confiança da mulher e garantir que ela se acalmasse. “Sou católico praticante,
então comecei a falar um pouco de Deus e dizer que ele poderia mudar a situação
dela”, completa.
Após
o resgate, a mulher foi encaminhada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Distrito
Federal (CBMDF) ao Hospital de Base, onde está sendo medicada. A moradora de
rua aparentava ter entre 25 e 30 anos, ainda de acordo com o relato dos
policiais."
E o que acontece após o resgate de uma tentativa de suicídio? A partir daqui
começa a nossa reflexão.
Conforme
demonstrou nossa pesquisa “Representações Sociais dos Profissionais
de Saúde Acerca do Fenômeno do Suicídio”, quando os suicídios não
são consumados temos a tentativa de suicídio. Socorridos por familiares, pelos
bombeiros ou por uma unidade médica de atendimento móvel, o SAMU, esses
indivíduos de uma maneira geral são encaminhados para as unidades de emergência
de um Hospital Geral, público ou particular, onde serão atendidos e tratados em
suas lesões físicas autoinfligidas. E aí, como explica a fala de um
profissional:
“Depende.
Quer dizer, tem que tratar a causa daquilo que vai tirar a vida da pessoa
naquele momento dentro do Pronto Socorro, é assim que a gente trata, como se
fosse qualquer outra coisa. Se o suicida é um cara que deu um tiro no peito,
tem que tratar igual se o cara tivesse tomado um tiro no peito acidentalmente,
não tem diferença. É o que eu estou dizendo, não há uma abordagem voltada para
o suicida. Ah, fez uma lesão cáustica porque tomou um negócio... um químico lá.
Lá vai a gente ver se atrapalha a respiração, se vai obstruir o esôfago daqui a
pouco, é isso que a gente vai fazer no pronto socorro. Evidente se o paciente
teve que ficar internado sempre é feito um parecer da psiquiatria, sempre é
feito alguma coisa, etc. Mas não é uma coisa que a gente faz no Pronto Socorro.
Aquela hora que ele vai morrer daquilo entendeu? Se ele tiver alguma coisa que
precisa ser visto tipo, como o exemplo do tiro, a gente teve que drenar ou
operar, ele vai para a enfermaria da cirurgia geral ou da clínica médica, se
for veneno ou alguma coisa assim e lá é pedido um encaminhamento pra
psiquiatria. Se for um paciente, por exemplo, que chegou aqui não tem nada, sei
lá, tentou cortar algum vaso, não pegou o vaso superficial, você acha realmente
que aquela pessoa pode se matar daqui há um algum dia, volta para casa e pode
vir a fazer alguma coisa, daqui mesmo a gente pede para o psiquiatra vir ver.
Mas tem muito hospital que não tem psiquiatria, na minha opinião isso é um
absurdo, mas a maioria não tem. Se a gente acha que não tem condições, não
libera, isso é a critério do médico. Vai ao chefe de equipe e fala: tem
paciente suicida e eu não vou dar alta, se der alta ele vai correr pra frente
do ônibus e vai morrer. Você não pode dar alta, se der alta a culpa é sua. O
chefe de equipe tem que resolver essa parte aí administrativa. Pega a
ambulância e transfere para o hospital psiquiátrico se for o caso, mas isso é
raríssimo”.
Na
fala desse profissional médico, dentre outros entrevistados na pesquisa,
enfermeiros e técnicos de enfermagem, fica manifesta a existência de protocolos
de ações e cuidados que, com muito rigor e profissionalismo, esses
profissionais procuram observar. Os sujeitos, suicidas, quase sempre são
levados para o Pronto Socorro de um Hospital Geral, dada a instrumentalização
dos mesmos para o atendimento às lesões físicas decorrentes dos danos
provocados ao tentar tirar a vida. É o que acontece.
Entretanto,
fica também evidenciado que o cuidado é para o corpo. E quanto a “alma”? Sofrimentos,
“lesões”, dores, “cortes”, que levam uma pessoa a tentar o suicídio são de
domínio da “alma”, não do corpo. Esses profissionais, de um modo geral,
desconhecem a complexidade do fenômeno suicídio por não terem recebido, durante
a sua formação acadêmica, uma preparação adequada para lidar com a dinâmica singular
de um paciente suicida. Foram formados e treinados para salvar vidas, daí a
ambivalência – revelada também na pesquisa – de suas reações ao serem
confrontados por situações nas quais o elemento mais complexo e impactante não
é necessariamente a lesão a ser tratada, decorrente do ato suicida, e sim um
indivíduo que quer, exatamente, pôr fim à sua vida.
“Pega
a ambulância e transfere para o hospital psiquiátrico se for o caso, mas isso é
raríssimo”.
É
raríssimo porque a maioria dos Hospitais Gerais, no Brasil, não possuem setores
de psiquiatria, logo não possuem na equipe um profissional psiquiatra ou
psicólogo para o acolhimento desse paciente. Pacientes que tentaram suicídio,
na maioria das vezes, são liberados da emergência sem passar por avaliação
psiquiátrica ou sem qualquer encaminhamento. É raríssimo porque, de fato, o que
ocorre é que não existe um protocolo de atendimento voltado especificamente
para o paciente suicida.
Observamos
mesmo existir uma certa frustração, no relato de alguns profissionais
envolvidos em nossa pesquisa, sobre o desenrolar do tratamento desses pacientes
tão logo sua remoção do Pronto Socorro. O que vai acontecer depois?
A
assistência efetiva ao sujeito que tentou o suicídio implica muito mais que o
cuidar das lesões físicas decorrentes da atitude de autoextermínio provocadas
em seu corpo – são problemas, sobretudo, relacionados à “alma”. E para esse
cuidado – na forma de políticas públicas de saúde para o paciente suicida – muita
pouca atenção tem sido dada.
Consideramos
que um protocolo mínimo de ações de atendimento a esse paciente, dentre outras
ações e projetos a serem pensados, deveria: 1)No
caso da existência de um setor psiquiátrico no Hospital Geral, esse setor deveria
ser imediatamente comunicado da entrada no Hospital de paciente suicida e esse
paciente após o socorro na Emergência e seu encaminhamento para a enfermaria
onde se recuperará de suas lesões, passaria a receber a visitação e
acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra. 2)Ser
encaminhado para o setor de psiquiatria, tão logo esteja recuperado de suas
lesões físicas, sendo sua alta definitiva condicionada a uma avaliação psiquiátrica. 3)Encaminhamento
e inclusão desse paciente no CAPS - Centro de Atenção Psicossocial da região para efetivo acompanhamento
psiquiátrico, psicológico e de suporte familiar e social para tratamento. 4)Visitas
a residência desse paciente para observar se o mesmo se encontra em tratamento. 5)No
caso da falta de um setor de psiquiatria, como é a realidade na maioria dos
hospitais no Brasil, esse comunicado da entrada de um paciente suicida será feito
ao CAPS daquele território, que deverá ter um profissional habilitado de
plantão para a visitação e acompanhamento do paciente. 6)Encaminhar
esse paciente para o CAPS para efetivo acompanhamento psiquiátrico, psicológico
e de suporte familiar e social para tratamento. 7)Visitas
a residência desse paciente para acompanhamento e observação se o mesmo se
encontra em tratamento. Dada a insuficiência e a superlotação desses serviços públicos substitutivos de atendimento, um bom projeto seria estabelecer convênios com clínicas e consultórios particulares de psicologia e psiquiatria, nos moldes do que já ocorre com Hospitais da iniciativa privada na assistência à saúde em geral, para que participem complementarmente no atendimento a esses pacientes, que seria pago pelo SUS e o que ampliaria consideravelmente a rede de assistência.
Uma
crença comum é a de que pessoas que sobrevivem a tentativas de suicídio não
tentam novamente, mas isso não é verdade. Na realidade, o que ocorre é
justamente o contrário. Pessoas que já fizeram uma tentativa tem maiores
chances de tentar de novo – e dessa vez, consumar o ato.
O
suicídio se constitui hoje numa gravíssima questão de saúde pública. Questão
que precisa urgentemente ser debatida e repensada, em que novas e reais
soluções sejam propostas de forma que esse tsunami de tentativas e de mortes
autoinfligidas sejam sustadas e a trágica profecia de Diekstra não se cumpra: a
de que o suicídio será a principal forma de morte no futuro.
Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra.