segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Um frágil sexo forte

Se perguntarmos às pessoas sobre qual grupo humano pode ser identificado com a força e a capacidade de enfrentar problemas e superar os obstáculos, certamente a resposta da maioria seria de que esse grupo corresponde aos homens de meia idade, com estudos, uma boa situação profissional, que tenham as necessidades básicas resolvidas e bem situados na vida. Bem, a maioria estará errada, pois esse é o retrato típico do suicídio em nosso tempo.
As estatísticas são teimosas e não variam muito de ano para ano ou quando mudam de país. Com ligeiras variações, o número de homens entre 40 e 60 que tiram suas próprias vidas é três vezes maior ao das mulheres suicidas. Esses dados nos obrigam a perguntar qual tipo de problema está levando os homens a uma decisão que desmonta totalmente essa ideia do “homem, sexo forte".
A atenção desproporcional e quase exclusiva dada ao feminino nos estudos de gênero significou que fenômenos como esse, que afetam o homem de maneira especial, não têm sido suficientemente submetidos à investigação. Só temos aproximações, mais intuitivas do que com base em dados, que em geral enfatizam o peso dos papéis masculinos tradicionais: de acordo com essas hipóteses, o homem deve ser competitivo, buscar sucesso, exibir seus pontos fortes e esconder as suas fraquezas. O que o torna mais frágil em situações de derrota e frustração e mais vulneráveis ​​ao estresse e à ansiedade. Acrescente-se a isso a necessidade de fingir que está sempre bem mesmo quando tudo, emocionalmente, vai muito mal.
A compreensão do problema é difícil em vista de outras evidências constantes: embora os homens se suicidem muito mais do que as mulheres, os pensamentos suicidas são mais recorrentes nelas (algo não estranho, se levarmos em conta que também as taxas de doença mental são um pouco maiores nas mulheres). Alguns estudos acrescentam que mesmo as mulheres fazem mais tentativas do que os homens. Se assim for, devemos pensar que as diferenças não ocorrem tanto na resposta dramática às crises pessoais, mas nos métodos para resolver essas crises. Nesse sentido, as diferentes escolhas de acordo com o sexo mantêm as constantes clássicas. O homem, infelizmente, escolhe formas mais violentas de suicídio.
Existem, no entanto, alguns fenômenos tipicamente masculinos que agregam alguma lógica à essa disparidade no número de suicídios de homens e mulheres. Embora a escassez de estudos, algumas abordagens do fenômeno enfatizam alguns fatores, por exemplo a incidência de crises pessoais relativas ao trabalho. A perda de emprego, para o homem, reforçaria a enfraquecer sua autoestima e a tornar suas vidas sem significado. Há também indícios de que situações de separação e divórcio atingem os homens com maior força, às vezes por causa da ruptura em si mesma e às vezes por causa da perda de filhos, propriedades e relações sociais e amizades que a acompanham.
O que parece óbvio é que uma grande parte dos homens enfrentam as situações de sofrimento em suas vidas com menos ajuda do que as mulheres. Em primeiro lugar, porque eles não pedem ajuda para as pessoas próximas nem para os especialistas, uma vez que fazer isso significa para muitos admitir uma fraqueza humilhante. Supõe-se que o papel masculino implica não só estar no controle das circunstâncias de sua vida, mas saber disfarçar muito bem quando você não está. Há casos impressionantes de grupos de amigos muito próximos que são surpreendidos com o suicídio de um de seus membros, sabendo mais tarde que este carregou durante anos uma tragédia pessoal sem dar o menor sinal do que realmente sentia.
As mulheres, por outro lado, estão mais inclinadas a confiar e falar mais abertamente sobre seus sentimentos e problemas. Assim, as redes de apoio formal ou informal acabam se movimentando para aquelas que não hesitam em reconhecer-se como frágeis. Já o homem que precisa de ajuda não acredita que ele precise, ou se sente envergonhado de pedir, ou quando ele decide fazê-lo, acha que não vai encontrar profissionais especificamente preparados a intervir no seu problema.
A fraqueza geralmente se esconde na aparência da força. Talvez seja hora de admitir que o homem também precise de outro tipo de empoderamento.


Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 188.


 Texto original: Un débil sexo fuerte. José Maria Romera. http://www.diariosur.es/opinion/debil-sexo-fuerte-20171008003441-ntvo.html  


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

'Sou feia e perdedora', diz menina de 13 anos antes de cometer suicídio


Rosalie Avila era vítima de bullying na escola e nas redes sociais.
EUA - Vítima de abusos e bullying em sua escola na Califórnia, a adolescente Rosalie Ávila, de 13 anos, tirou a própria vida: "sou feia e perdedora", escreveu ela em um bilhete encontrado pelos pais depois da tragédia. Rosalie tentou se matar na terça-feira passada e, na sexta, teve sua morte cerebral declarada. Foi mantida conectada até ontem para que seus órgãos fossem doados, informou a imprensa local.
Rosalie Avila, de 13 anos, era vítima de bullying e se matou na semana passada. 
"Minha filha foi vítima de bullying", declarou sua mãe para um site. "Era uma pessoa bonita por dentro e fora, era uma grande artista, muito adorável e amada", completou.
Estudante do oitavo ano em uma escola pública em Calimesa (114 km ao leste de Los Angeles), Rosalie  deixou um bilhete de despedida para os pais: "me desculpem, pai e mãe. Eu amo vocês".
"Desculpe mãe, que você vá me encontrar assim", leu seu pai, Freddie Ávila, citado pelo site CBS.
Os pais contaram que a jovem, que sonhava em ser advogada, era agredida em redes sociais, além da escola: nesse dia, antes de tentar se matar, já havia sido alvo de piadas por causa do aparelho nos dentes.
"Guardou isso para si", desabafou o pai, na entrevista à NBC, acrescentando que "por dentro, ela ficava aos pedaços por sempre implicarem com ela".
Uma investigação está aberta para determinar se houve "bullying" na escola.
Ao todo, 5.900 menores, entre 10 e 24 anos, tiraram a própria vida nos Estados Unidos em 2015, segundo números oficiais.
Em nota, o distrito educacional de Yucaipa-Calimesa, ao qual pertencia a escola de Ensino Médio de Ávila, lamentou a morte de sua estudante. Vigílias também foram realizadas.
"Estamos comprometidos com manter uma cultura positiva e inclusiva que permita aos nossos estudantes crescer acadêmica e socialmente", acrescentou o texto.
O site governamental "Stop Bullying" indica que 28% dos estudantes nos Estados Unidos sofrem esse tipo de abuso entre o sexto e 11º ano, e 9%, agressão pelas redes sociais.
Em setembro, um adolescente matou um colega e feriu outros três em sua escola no estado de Washington, em mais um caso de "bullying".


Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.

O texto original foi revisto para evitar a publicação do método usado, conforme orienta a OMS. 
 Texto original: http://odia.ig.com.br/mundoeciencia/2017-12-05/sou-feia-e-perdedora-diz-menina-de-13-anos-antes-de-cometer-suicidio.html


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Um sacerdote deve ser processado por não revelar os pensamentos suicidas de um fiel?



A viúva de um homem que confiou a um sacerdote da cidade de Bruges, na Bélgica, sua intenção de se suicidar apresentou uma queixa-crime contra o padre.
O Ministério Público de Bruges entende que o padre seja, sim, processado por não ter comunicado o fato. Alexander Stroobandt, 57 anos, capelão em uma casa de repouso e administrador de um site que ajuda homens e mulheres em luto, alega segredo de confissão e acredita que ele fez de tudo para deter o homem que dirigiu-se a ele para pôr fim à própria vida.
"Nunca, pensei em chamar a polícia. Mantive o segredo da confissão. Meu interlocutor falou comigo em sigilo e me avisou que suas intenções eram sérias. Então fiz tudo o que pude para convencê-lo a não tomar uma decisão apressada".
Os fatos datam de 2015, quando um residente de 54 anos de idade da casa de repouso entrou em contato com o padre Stroobandt por telefone. Sofrendo de grave depressão, o homem deu a conhecer suas intenções de acabar com a vida. Para o padre, foi uma confissão. O fato de ter ocorrido através de uma chamada telefônica não altera nada a seus olhos. A conversa durou por volta de uma hora e o padre Stroobandt teria feito de tudo para demover seu interlocutor de seus pensamentos suicidas.
Sua viúva descobriu, na memória de seu telefone celular, uma série de SMS que destacavam as ligações entre seu falecido marido e o padre. "O padre sabia o nosso endereço, ele poderia ter alertado a polícia, mas ele não fez nada. Quando entrei em contato com ele, ele se escondeu atrás do segredo da confissão e me disse que tinha feito de tudo para convencer meu marido a não se suicidar. Mas o segredo da profissão é tão santificado a ponto de colocar um ser humano em perigo? Eu não entendo assim." Na verdade, a viúva contratou um advogado e decidiu apresentar uma queixa. Ela não procura a condenação do padre, mas quer que tal atitude não possa ser repetida em outras ocasiões.
O sacerdote continua convencido de seu direito e acredita que, se o segredo da confissão for atacado, a relação de confiança entre um clérigo e a pessoa que confia nele se tornará impossível.
Mas o segredo da confissão deve ser mesmo absoluto? É certo que o Código de Ética de várias profissões determina que os médicos, psicólogos, etc., e todos os outros depositários, por estado ou profissão, dos segredos que lhes são confiados (não é o caso, para esses profissionais de relatos sobre suicídio) serão punidos até mesmo com a cassação de seu registro profissional se revelarem esses segredos, exceto nos casos em que são chamados a testemunhar num tribunal ou quando a lei obriga-os a dar a conhecer esses segredos.
Mas o segredo da confissão não é absoluto. Nenhum profissional pode se colocar atrás de um segredo se um valor maior está em jogo, por exemplo o respeito pela vida. O sacerdote, recebendo a confissão de seus fiéis, o advogado, recebendo a confissão de seus clientes, o médico, recebendo as confidências de seus pacientes, estão isentos de invocar segredo profissional se está em jogo a violação de um valor maior.

“O segredo da profissão é tão santificado a ponto de colocar um ser humano em perigo? Eu não entendo assim." Para a Igreja e o sacramento da confissão, fica a questão.


Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.


Texto original:  Un prêtre poursuivi pour ne pas avoir révélé les pensées suicidaires d'un fidèle. Jean- Claude  Matgen /http://www.lalibre.be/actu/belgique/un-pretre-poursuivi-pour-ne-pas-avoir-revele-les-pensees-suicidaires-d-un-fidele-5a0ae0e7cd70fa5a063b9ccb

Texto livremente traduzido e adaptado.



quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Transtornos Mentais


Adriano Facioli
Geralmente não basta saber qual é o nome do transtorno mental que você tem.
É muito comum as pessoas que estão passando por um período muito difícil em sua vida, com sofrimento psicológico significativo, que nunca procuraram por ajuda profissional em saúde mental, imaginarem que boa parte ou todo seu sofrimento irá se resolver quando souberem qual é o nome do transtorno mental que têm.
Pensam que nessa área as coisas ocorrem da mesma forma que em qualquer outro tipo de tratamento médico, de saúde. Imaginam que irão a um profissional de saúde mental, geralmente o psiquiatra, e que em uma única consulta ele irá fazer o diagnóstico, prescrever os medicamentos, e que a partir daí tudo irá se resolver rapidamente.
Não, não é assim. Psiquiatras trabalham com hipóteses diagnósticas, as quais terão de ser constantemente reavaliadas. Após a primeira consulta o paciente terá de ser constantemente reavaliado, para ir aos poucos se consolidando um possível diagnóstico do que tem.
E sair do consultório com a prescrição de alguns medicamentos geralmente não é a solução. Geralmente é necessário um acompanhamento psicológico.
Os medicamentos psiquiátricos têm função remediativa, de alívio de sintomas. Não atuam nas causas, nos determinantes dos transtornos mentais. Por si só não curam, não produzem a recuperação, a reabilitação da pessoa que está sofrendo.
Para haver recuperação é necessário um processo de investigação que almeje descobrir, em boa medida, quais são os determinantes do sofrimento da pessoa em questão. E esses determinantes, predominantemente e de modo geral, estão na vida da pessoa, em como ela está vivendo, em quais estimulações sofre, em como estão se dando suas interações com o mundo e com outras pessoas.
Esta investigação, portanto, deve se atentar para fatores tais como, por exemplo: dieta, regime de sono e vigília, postura e expressão corporal, rotina de exercícios físicos e a complexidade das interações com outras pessoas. Uma psicoterapia, ou um processo de orientação psicológica minimamente eficaz, irá se atentar para esses e outros possíveis fatores.

Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste blog, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141 ou 188.

Texto original de autoria de Adriano Facioli publicado em 17 de outubro às 18:37.  https://www.facebook.com/adriano.facioli



sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Fique!


Quando me sentei no confortável sofá de padrões azuis no consultório de minha terapeuta, aninhada no meio das almofadas suaves de pelúcia brancas, girava meu suporte de rabo de cavalo ao redor do meu pulso repetidamente, quando ela me perguntou:
"Para onde você se transportou agora?"
“Lugar algum. Eu simplesmente me distraí." Respondi, enquanto olhava para o sol, cujos raios dançavam pelo peitoril da janela.
Mas isso estava longe de ser verdade. Eu estava pensando sobre a vida e a morte, o significado da minha existência, meu nível de desesperança e como eu queria muito acabar com a dor e, finalmente, acabar de vez com a minha vida.
Eu tenho pensado muito nisso ultimamente. Então, hoje, quando minha terapeuta me deu a tarefa de escrever cartas para mim; cartas que eu possa ler durante os períodos difíceis ou sem esperança, pensei: que melhor carta para escrever do que um lembrete para ficar por aqui.
Aqui está - minha carta de lembrete para me manter viva e ficar por aqui:
“Para mim, quando eu precisar lembrar.
Eu sei que as coisas não têm sido fáceis ultimamente e a dor que geralmente sinto é demais para suportar. A morte parece ser uma opção muito mais aceitável do que esperar que as coisas melhorem ou se tornem mais fáceis. Você vive dizendo a si mesma que está cansada, que é uma doente crônica, uma fracassada e que não tem solução - mensagens que você realmente acredita definirem o núcleo do seu ser. Você realmente não consegue enxergar além da escuridão que circunda o seu dia a dia. A luz cobiçada no final do túnel? Não é mais do que uma miragem fugidia que você sempre está perseguindo sem nunca conseguir alcançar.
Você está cansada de lutar em uma batalha implacável com doenças mentais. Qualquer pessoa entenderia porque você está exausta. Faz sentido - assim como querer por um fim definitivo à dor também faz sentido. A depressão tem uma maneira de encolher seu mundo para uma única sala solitária. Ela faz o mundo se resumir aos pensamentos negativos, aos sentimentos desesperadores e ao desejo de morte que dominam dentro das quatro paredes do seu quarto, te impossibilitando de sair da cama.
O que você não percebe é que existe um mundo além dessas cortinas densas de pensamentos, sentimentos e desejos obsessivos e escuros. Um mundão lá fora grande e brilhante e que está à espera de ser descoberto. Embora pareça aterrorizante nesse momento pensar em abraçar o ruído, o caos e a luz - eu prometo que nem sempre se sentirá tão esmagada. Você só tem que segurar a onda e ficar o tempo suficiente para ver isso por si mesma as coisas na tua vida se transformando. Por isso:
Fique!
Fique quando sentir vontade de entrar no quarto. Fique quando tudo em você estiver gritando por alívio. Fique o suficiente para ver as faíscas inflamarem-se em chamas e a esperança arder em você mais uma vez. Fique mais um dia. Fique para ver uma outra pessoa sorrir. Talvez um dia seja você quem vai sorrir também. Fique para assistir a outro pôr-do-sol e respire fundo enquanto contempla os tons de algodão doce que cobrem a vastidão do céu. Fique por algum tempo, até ter a chance de ouvir sua voz falar mais alto. Você ainda tem muito a dizer e a fazer e pode ser uma força poderosa se você se permitir ficar. Fique para que possa experimentar mais uma xícara de café. Pelo menos saberá que alguma coisa te provoca sensações gostosas. Fique para que possa fazer mais uma viagem e tirar fotos que ficarão guardadas para sempre na forma de memórias. Fique mesmo sabendo que vai chorar mais uma vez. Lembre-se de que você é humana, e ser humano é uma coisa bagunçada e dolorosa, mas também, ocasionalmente, linda. Fique para que você possa segurar a mão de alguém. Fique para ver as mudanças acontecendo ao seu redor. Fique para sentir seu coração ficar pleno e você se sentir cheia de viva, mesmo tendo certeza de que esses sentimentos não durarão. Fique para ter essas experiências. Peço-lhe que fique, por favor. O mundo precisa, sim, de você, mesmo que não acredite no momento. Você é digna e amada e merece ocupar o seu espaço na vida.
Então, fique um pouco mais nesse mundo.
Conquiste o seu espaço.
Faça ouvirem sua voz.
Experimente a vida em toda sua bagunçada beleza.
Deixe sua marca neste mundo. Só ficando por aqui é que você pode causar um impacto nas outras pessoas, e não importa quão pequeno você possa sentir que esse impacto possa ser.
Você ficará bem. Acredite. Talvez não hoje ou mesmo amanhã, mas se você optar por ficar então será a primeira a testemunhar a incrível força, poder e bravura que você possui. Você, minha querida, é corajosa.
Fique.
Te vejo amanhã.”
Morrer, partir! Muitas vezes sentimos ser essa a escolha mais acertada. Pensamos que essa decisão significaria alívio e um final para uma história de vida que, quem sofre, nunca quis ter. É vital, especialmente quando os pensamentos depressivos se tornam agressivamente dominantes, que os lembretes permaneçam: para me lembrar de porque eu preciso ficar. Não importa o quão ridículo ou bobo possam parecer para alguém de fora. Os meus motivos para ficar podem parecer diferentes dos seus, e está tudo bem. Crie seus próprios motivos, mantenha-os próximos e acesse-os quando estiver equivocadamente acreditando que deixar esse mundo é mais atraente do que ficar. Como minha terapeuta me disse uma vez: "O mundo levaria um grande golpe se você não estivesse aqui, porque você é inerentemente digna de viver." O mundo precisa de nós, mesmo que ainda não possamos acreditar. Fique um pouco mais.
Siga sua jornada, aqui.



Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.

Texto original: To My Suicidal Self Who Needs a Reminder to Stay. By Leah Beth Carrier. https://themighty.com/2017/09/letter-reminder-to-stay-when-feeling-suicidal-help/
Texto livremente traduzido e adaptado.


sábado, 19 de agosto de 2017

Quais perguntas fazer a alguém que se sinta suicida?


Quando uma pessoa querida, um familiar ou amigo, está pensando em suicídio, às vezes pode ser difícil saber o que fazer ou dizer diante dessa situação.
Talvez um colega de trabalho lhe tenha expressado, de passagem, sentir que ninguém notaria se ele desaparecesse para sempre. Talvez um membro da família tenha manifestado que o melhor seria se ele pudesse dormir e nunca mais acordar. Ou talvez um amigo tenha contado a você sobre um plano concreto para acabar com a própria vida. Seja qual for a situação, esse tipo de conversa é séria e não deve ser ignorada.
Queríamos saber quais perguntas fazer a alguém que se sinta suicida, então pedimos aos membros do nossa comunidade de saúde mental para compartilhar uma pergunta que eles desejaram que lhes tivessem sido feitas quando se sentiram suicidas. É importante lembrar que cada pessoa que experimenta pensamentos suicidas tem sua própria necessidade. As perguntas podem ser um excelente ponto de partida, mas não deve ser a única medida para conseguir uma aproximação. A atitude que deve seguir a estas perguntas é que pode realmente ajudar as pessoas a se sentirem compreendidas e amadas.
Eis o que eles tinham a dizer:
1. “Você quer sair? Muitas vezes, em meus piores momentos, sempre me senti isolada e sozinha. Foi a partir deste ano que as pessoas realmente começaram a perceber e passaram a me convidar quando eu começava a me sentir isolada. "- Kira M.
2. “Posso me deitar aqui com você? Não precisava de mais conversa. Minha cabeça já estava cheia o suficiente. Eu precisava era de um abraço para saber que sim, eu existia para alguém. "- Michelle M.
3. “Qual é a pior coisa que você está pensando ou sentindo agora? Quando me sinto muito mal, vejo-me obrigada a esconder o que sinto das pessoas. Seria um alívio saber que eu posso conversar e falar abertamente sobre isso com alguém. "- Elizabeth M.
4. "Eu queria que alguém me perguntasse o que estava acontecendo ou como eles poderiam ajudar. Eu queria que alguém me ouvisse. No meio em que vivo as pessoas não dão a mínima atenção se o assunto não for conveniente para elas. É triste, tentei falar com alguns amigos sobre suicídio, mas eles empurraram o assunto para debaixo do tapete. "-Ashley M.
5. "Eu queria que eles simplesmente me perguntassem se eu pensava em suicídio. Sempre me fazem pergunta tipo: “Como você está”?" 'Você está bem?' "Algum mau pensamento?" "Você está tendo um dia bom ou ruim?" E tantas outras perguntas que parecem evitar a palavra " suicídio ". Quando essas pessoas evitam dizer a palavra suicídio ou se constrangem em perguntar se estou me sentindo suicida, penso logo que não querem saber como estou realmente me sentindo. "- Makayla F.
6. “Posso segurar sua mão esta noite? Eu acho que é importante poder sentar-se com alguém que é suicida e, não, procurar colocar um band-aid... Apenas sente-se sem julgamento e deixe a pessoa sentir que há alguém de verdade ao seu lado. "- Gyna R.
7. “Como posso ajudar? E se eu não sei o que dizer, porque, realmente, quando me sinto assim eu não sei como ser ajudada, apenas esteja lá. "- Jessi W.
8. “Por quê? Uma pergunta simples que nunca me fizeram de uma maneira sincera. Sem julgamento, sem nenhuma tentativa distorcida de fazer com que meus problemas pareçam menos importantes do que eu sinto que são. Perguntar por que com a verdadeira intenção de entender. Cuidar de mim sem me odiar por meus pensamentos. É o que eu precisaria. O que ainda preciso às vezes. "- Lydia D.
9. “Posso ficar com você? Às vezes, quando eu estou suicida, tudo o que preciso é que alguém esteja ao meu lado, que fisicamente não me deixe sozinha e que eu possa sentir a presença de uma outra pessoa que deseje realmente  que eu permaneça viva. "- Alyse R.
10. “Você está realmente OK? Se alguém tivesse dito isso me olhando dentro dos olhos e estivesse aberto em ouvir tudo o quanto eu gostaria de dizer, teria sentido que alguém se importou de verdade comigo. Ninguém nunca tentou ultrapassar a resposta de sempre: "Sim, estou bem", e eu realmente queria que alguém tivesse. "- Kacey K.
11. “Posso ir / posso ir buscá-la? Eu tenho (um filme / jogo de tabuleiro / jogo de cartas / maquiagem nova / etc e / pipoca / doces / bolo / etc). Seria bom estar com alguém que só queira estar comigo. Não precisa querer me “ajudar” ou “me tirar do fundo do poço”. Apenas esteja lá. Literalmente. Distraia-me. Faça com que me divirta. "- Brianne O.
12. “Você quer ajuda com algumas de suas tarefas? Você pode falar comigo sobre isso? Como você está se sentindo? Você pode me dizer o que está acontecendo para que eu possa entender o que você está passando? Existe alguma coisa que eu possa fazer para apoiá-lo nessa sua luta? Qualquer um destas perguntas seria bem vinda. "- Devin L.
13. “Você quer que eu procure um profissional para você se tratar? Eu nunca falo porque não quero ser um fardo e preocupar as pessoas, mas eu apreciaria se alguém levasse o que sinto a sério e me fizesse essa pergunta. "- Valentina V.
14. “Como posso te ajudar? As pessoas costumam ouvir que eu sou suicida, mas digo que não é nada disso, peço desculpas e desapareço por um tempo até que eu fique "melhor". Eu não precisaria de uma ajuda grandiosa, coisas até bobas - um texto ou uma visita à minha casa quando eu estou ansiosa para ver alguém, que enviem um meme tolo, mas pelo menos me perguntem: “Como eu posso te ajudar”?" Mas eu nunca vou contar a ninguém nada disso. "- Ciara L.
15. "A única coisa que sempre, sempre e sempre preciso ouvir é isso: Eu não vou deixar você. "-  Krystal S.


Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.

Texto original: By Juliette Virzi  https://themighty.com/2017/07/questions-to-ask-someone-suicidal-thoughts/ via @TheMightySite.
 Texto livremente traduzido e adaptado.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Homens, precisamos falar sobre Depressão!


Vamos começar com uma estatística dura e fria.
Quando pensamos nos homens na meia-idade, podemos vê-los como independentes e capazes de cuidar de si mesmos, mas não é essa a realidade. O suicídio é hoje a principal causa de morte em homens com menos de 50 anos na Grã-Bretanha. Pense nisso por um tempo. Não é o câncer ou doença cardíaca ou um acidente de carro a causa mais provável de morte de jovens, ou mesmo de homens de meia-idade, mas o suicídio.
O Escritório Nacional de Estatísticas também nos diz que, enquanto em 1981, 63% dos suicídios eram do sexo masculino, agora esse valor pulou para 78%.
Pense também nisso por um tempo. Há algo acontecendo em ser um homem em 2016 que está levando muito mais homens a tirar sua própria vida. Isso fica mais surpreendente quando você tem em mente que muito mais mulheres que homens são diagnosticadas com depressão.
Como o suicídio geralmente é um sintoma de depressão, isso sugere que os homens não estão procurando ou recebendo a ajuda de que precisam. Como as taxas de suicídio são muito elásticas, variando maciçamente entre as épocas e os países, deveria ser uma urgente e grande preocupação o fato de que tantos homens estejam morrendo sem parar todos os anos. Os homens deveriam, no mínimo, ser encorajados a falar sobre seus problemas.
Mas estamos fazendo isso? Eu realmente não penso que estamos. Pense em como a sociedade impõe como um homem adulto deve se comportar! Pense na frase sempre repetida 'você é forte', usado em qualquer situação quando um homem reclama por sentir-se mal ou preocupado ou com problemas. As sugestões por trás dessa frase são terríveis quando você para e olha. Ele coloca a ideia de masculinidade em algum patamar muito alto, implicando que por ser um homem é necessário ser sempre forte, estóico, capaz de sempre se dar bem e resolver todas as situações.
Conversar sobre um transtorno mental que se tenha é quase impossível, dado o estigma que ainda envolve essas doenças. Ainda há a ideia burra de que a depressão é uma ‘fraqueza’, uma ‘frescura’, ‘falta de vontade’, ‘falta de caráter’, e todas essas bobagens. E para os homens, é duplamente difícil porque não são realmente encorajados, principalmente por outros homens, para falar sobre estar doente.
Estamos no século 21, com todo avanço médico e de pesquisas na área da saúde e ainda temos pessoas por aí que duvidam que a depressão seja mesmo uma doença e que está entre os problemas mais graves de saúde pública no mundo. E também temos a ideia tosca de que o machismo é uma coisa completamente boa para os homens. Não é!
Precisamos compreender de uma vez por todas que o machismo é errado, não só porque limita as mulheres economicamente e socialmente, mas também porque limita os homens emocionalmente. O machismo nos impede de falar sobre nossos problemas, e mata pessoas.
Quando fiquei doente com depressão há 15 anos, meu círculo social diminuiu muito rapidamente. Havia muito poucas pessoas – certamente e não amigos do sexo masculino – com as quais eu senti que podia falar abertamente. Eu tive a sorte de poder conversar sobre o que estava me acontecendo com minha namorada e meus pais, e essa foi uma razão pela qual eu não tirei minha vida como eu queria desesperadamente fazer. Algumas pessoas nem têm isso.
Limitar as possibilidades de expressão emocional por machismo pode levar muitos homens a não reconhecerem que o que eles têm é uma doença. E que a visão de mundo desesperadoramente negativa que passa a ser dominante quando descem ao fundo do vale não é um reflexo da realidade, mas sim de uma doença. Por isso, muitas vezes, os homens encontram outras maneiras de enfrentar, de forma não saudáveis, os seus problemas, lançando mão do uso abusivo do álcool e de outras drogas. (De acordo com o ONS, por exemplo, 67% dos britânicos consumem álcool em níveis "perigosos" e 80% dos dependentes dele são homens).
Muitos copos de cerveja ou uma garrafa de uísque não irão substituir sua desesperança de que as coisas possam ser mudadas, mesmo que você beba até destruir o seu fígado!
Precisamos mudar a forma como pensamos não apenas a respeito das doenças mentais, mas também quanto ao que significa ser um homem, porque na verdade estamos nos impedindo de obter a ajuda de que precisamos.
E a coisa fica ainda mais horrível porque, realmente, a depressão – com os graves pensamentos suicidas dela decorrentes – é uma doença em que falar, falar e falar, sobre o que está acontecendo realmente ajuda a aliviar os sintomas. A depressão é uma doença dos pensamentos tortos e sombrios e se nós envenenamos o ar com ideias de que os homens, por serem homens, deveriam se calar sobre suas doenças, especialmente as invisíveis, então eles acabarão não só em silêncio, mas também se culpando e punindo-se por ficarem doentes, quando, por serem homens, de forma nenhuma poderiam ficar.
Então, vamos tirar os homens da caixa emocional estreita em que se encontram. Vamos falar abertamente sobre o que sentimos, especialmente quando o que sentimos pode nos matar.

Vamos falar!


Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.



Texto Original: Men need to open up about depression, not man up and keep quiet. By http://www.telegraph.co.uk/men/active/mens-health/11533147/Men-need-to-open-up-about-depression-not-man-up-and-keep-quiet.html

Texto livremente traduzido e adaptado.


quinta-feira, 15 de junho de 2017

Como estão agora ?: O destino dos que sobreviveram a uma tentativa de suicídio

Kevin Hines

A Golden Gate Bridge é uma ponte localizada no estado da Califórnia, nos Estados Unidos que se notabilizou pela trágica fama de ser um local que muita gente procura para se suicidar. Pessoas que queiram morrer precisam, definitivamente, estar muito mal a ponto de recorrer a Golden Gate Bridge para saltar. 

Mas e se essas pessoas são impedidas de saltar? O que acontece com elas depois?
Você pode pensar que, uma vez libertos pelas autoridades que impediram seu suicídio na ponte, elas ainda viriam a tentar novamente o suicídio. Afinal, essas pessoas estavam decididas a morrer. Seria lógico então pensar que ser impedido de saltar simplesmente atrasou suas mortes.
O que você acha? Se teve tal suposição você está errado. Isso, errado!
Na década de 1970, um pesquisador chamado Richard Seiden resolveu investigar o que aconteceu com 515 pessoas que chegaram à Golden Gate Bridge para morrer nos 35 anos anteriores, mas que foram detidos pelos policiais da Patrulha Rodoviária da Califórnia. Ele publicou os resultados em um artigo intitulado  Where Are They Now?: A Follow-up Study of Suicide Attempters from the Golden Gate Bridge.”
O que o Dr. Seiden encontrou é um testemunho notável, e esperançoso, do fato de que uma crise suicida é frequentemente - muitas vezes - temporária.
Das 515 pessoas cuja tentativa foi interrompida, 35, de fato, vieram a morrer por suicídio. Considerando os relatos que os pesquisadores não incluíram, o Dr. Seiden afirmou que 90% das pessoas que tentaram saltar do Golden Gate Bridge não morreram por suicídio. 
O que outras pesquisas mostram?
Esta pesquisa, embora com 35 anos, ainda é verdadeira. Apesar de uma tentativa de suicídio anterior aumentar drasticamente o risco de suicídio futuro, os estudos demonstram que a maioria das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio não morre por suicídio:
  • Em um estudo da Finlândia, de 224 pessoas que tentaram suicídio e foram atendidas em um centro de saúde, 8% morreram por suicídio dentro de 12 anos.
  • Pesquisadores da Suécia seguiram 34.219 pessoas que foram hospitalizadas após um ato de automutilação intencional. Durante 3 a 9 anos de seguimento, 3,5% morreram por suicídio.
  • Um estudo seguiu 100 pessoas que sobreviveram a uma tentativa de suicídio por overdose. No final do seguimento de 37 anos, 13% morreram por suicídio. (A taxa de mortalidade deste estudo é maior do que outros, quase certamente por causa do longo período de acompanhamento e da natureza séria da tentativa, o que justificou a admissão em um hospital).
  • No geral, uma revisão recente de 177 estudos de pesquisa em todo o mundo descobriu que 4% das pessoas que sobreviveram a um ferimento ou intoxicação intencionalmente provocados se suicidaram em 10 anos.
Por que eles decidiram ficar vivos?
Existem diferentes possíveis razões pelas quais as pessoas que tentam o suicídio, ou fazem tal tentativa, decidem escolher depois se manterem vivas. A razão mais intuitiva é que as crises suicidas são, por sua natureza, temporárias. Na grande maioria das vezes, a crise passa, e passa a vontade de tirar a própria vida.
Além disso, as pessoas que tentam o suicídio podem receber a ajuda de que precisam depois. Amigos e familiares podem se reunir ao seu lado. Terapeutas e médicos podem ajudar a fornecer alívio. Os motivos da pessoa para morrer podem começar a desaparecer.
Outra possibilidade é que o instinto de viver passa a falar mais alto quando alguém se aproxima realmente da morte. Até então, esse instinto pode ter sido obscurecido e quase que anulado pela depressão, estresse, desesperança ou desespero.
O Instinto de Viver
A história de Kevin Hines demonstra com clareza como a vontade de viver pode aparecer quando a vida de alguém está próximo da morte. Em 2000, ele realmente saltou da Golden Gate Bridge. Poucas pessoas sobrevivem a uma tal queda. A água cerca de 200 metros abaixo age da mesma forma que o concreto quando uma pessoa cai sobre ela em alta velocidade.
Embora a depressão grave por que passava o tenha levado saltar da ponte, Kevin Hines afirmou :
"No segundo momento que eu soltei, eu sabia que cometi um grande erro".
Para Kevin Hines, a vontade de viver surgiu no exato momento em que saltou. Ele conseguiu se endireitar nos poucos segundos que demorou para ele bater na água e desta forma evitou bater de cabeça. Depois que ele foi resgatado, ele continuou a viver, e vive ainda, servindo como um ardoroso defensor da prevenção do suicídio a nível nacional.
Lições de Vida
Obviamente, e infelizmente, a vontade de viver não se reafirma em todos os que tentam morrer. Não podemos ignorar que 10% das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio continuam a morrer por suicídio.  E para mais de metade das pessoas que morrem por suicídio, o ato fatal foi mesmo a primeira tentativa de morte.  
A tragédia do suicídio é indiscutível. A sobrevivência dos que fazem uma tentativa de suicídio nem sempre acontece.
No entanto, me dá grande esperança saber que a grande maioria dos sobreviventes de tentativa de suicídio permaneça sendo apenas isso - sobreviventes.  Este é talvez o melhor argumento para prevenir o suicídio. É verdade que o suicídio às vezes desafia mesmo os melhores esforços para combatê-lo . Mas, em geral, a evidência é que evitar o suicídio e a prevenção não é simplesmente um atraso temporário da morte.
A prevenção do suicídio pode salvar vidas. E para a maioria daqueles cujas vidas foram salvas, a vida continua por muitos e muitos anos.





Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra e ligue para o número do CVV: 141.



Texto original:  Where Are They Now?: The Fate of Suicide Attempt Survivors. Escrito por   / http://www.speakingofsuicide.com/2013/07/05/suicide-attempt-survivors/




Texto livremente traduzido e adaptado.


quarta-feira, 31 de maio de 2017

Por que luto apaixonadamente pela Prevenção do Suicídio?

"Se a vida de alguém é tão horrível a ponto de querer morrer, por que impedi-lo?"
Muitas vezes me fazem essa pergunta ou alguma variação desta questão. Pois bem, devo já ir dizendo que sou um apaixonado pela prevenção do suicídio. Eu sei que minha posição muitas vezes desencadeia a contrariedade de alguns que pensam que as pessoas deveriam ter o direito de acabar com sua própria vida sem interferência de outros bem-intencionados. Entretanto, em minha opinião, existem muitas razões para impedir alguém de suicídio.
O motivo mais importante para evitar o suicídio é que as crises suicidas, embora terríveis ​​e dolorosas, são quase sempre temporárias. Considere que 90% das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio não morrerão por suicídio. Repito: 90% das pessoas que sobrevivem a uma tentativa de suicídio não virão a morrer por suicídio. Esse número é muito revelador. Mesmo entre as pessoas que desejaram morrer tão fortemente a ponto de tentar acabar com suas vidas, a maioria vai escolher viver.
Enquanto uma pessoa estiver viva, as coisas podem mudar para melhor. As situações mudam. E mesmo que sua situação externa seja imutável, é possível sim descobrir coisas que tornem sua vida digna de ser vivida. Existe sempre a possibilidade de encontrar formas de lidar com essa situação, ou é possível passar a apreciar coisas diferentes na vida. É possível até encontrar um propósito na vida que dê um significado a uma perda ou a um trauma sofrido.
Kevin Hines é um defensor da prevenção do suicídio que, anos atrás, saltou da Ponte Golden Gate, o local em que vem ocorrendo a cada ano a maioria dos suicídios nos Estados Unidos. A morte é quase certa quando se pula da ponte. É sabido que mais de 1.500 pessoas já pularam, e apenas 30 ou mais são conhecidas por terem sobrevivido. Então, quando Kevin pulou da Ponte Golden Gate, ele estava absolutamente decidido a morrer. E, no entanto, mesmo com essa intenção, no momento em que ele pulou da ponte, ele se arrependeu instantaneamente de sua decisão.
Sua experiência é uma das muita que ilustra que o desejo de morrer é fluido. Vem e vai. Vem e vai em graus variados. A grande maioria das pessoas que são salvas do suicídio ficam agradecidas, mais cedo ou mais tarde, por estarem vivas.
Outra razão importante para evitar o suicídio é porque, apesar do que afirmam os defensores do suicídio racional, em quase todos os casos, o suicídio é um ato decididamente irracional. A pesquisa indica consistentemente que 90% das pessoas que morrem por suicídio estavam com uma doença mental diagnosticável e possível de ser tratada no momento da morte. A doença mental distorce o pensamento. O que é ruim pode tornar-se bom e vice-versa. Muitas vezes, mas muitas vezes mesmo, quando a saúde mental de uma pessoa melhora, o desejo de morrer desaparece por completo.
Algumas pessoas contestam as altas estimativas de doenças mentais no suicídio. Mas ainda que presumamos que nem todos os que morrem pelo suicídio tenham uma doença mental, temos que considerar que outras coisas além da doença mental também podem distorcer profundamente o pensamento de alguém, como uso de substâncias, a privação de sono e uma experiência traumática.
Muitas pessoas que abordam essas questões reconhecem que também já consideraram seriamente o suicídio ou fizeram uma tentativa, mas atravessaram essa difícil fase e hoje se juntam, numa comunidade de esperança, para contar sobre isso.





Se você ou alguém que você conhece está lutando com as questões abordadas neste texto, por favor, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra.



Texto original:  Why Prevent Suicide? Here Are My Reasons. Written by  Stacey Freedenthal, PhD, LCSW  /  http://www.speakingofsuicide.com/2013/05/19/why-stop-someone-from-suicide/




Texto livremente traduzido e adaptado.