quinta-feira, 28 de julho de 2016

Falta de cuidado com a saúde mental leva médicos à depressão, dependência química e ao suicídio


Valéria Mendes - Saúde PlenaPublicação:27/03/2014 09:00Atualização:27/03/2014 10:05
Autossuficiência é a palavra que pode sintetizar a dificuldade que o médico tem de procurar ajuda quando adoece. No livro, ‘Médico como Paciente’, a autora e doutora em psiquiatria Alexandrina Meleiro cita o benefício da ignorância como um fator que protege a pessoa leiga de compreender o que vai lhe acontecendo e permite que esse paciente acredite na palavra do médico. Nesse contexto, sentimentos como onipotência e vergonha fazem com que muitos profissionais assumam a automedicação. As consequências são variadas, mas quando o assunto é saúde mental, vemos a categoria amargar incidência alta de dependência química, depressão e taxa de suicídio. No Brasil, essa discussão ainda é tímida.

Psiquiatra, coordenador da Comissão de Atenção à Saúde Mental dos Médicos, membro emérito da Academia Mineira de Medicina e idealizador da I Jornada Brasileira de Saúde Mental dos Médicos, José Raimundo da Silva Lippi lembra que as pessoas podem alcançar um nível intelectual muito grande, mas mesmo assim ser emocionalmente frágil. “A saúde mental é um estado que vai sendo alcançado através da capacidade que o ser humano tem de tolerar níveis cada vez maiores de tensões e de frustrações. O homem saudável não é aquele que vence as frustrações, porque elas não são elimináveis, mas sim o que tolera bem os níveis de decepção”, explica.
O médico afirma que quando o estresse está acima do suportável para a pessoa, se ela não procurar ajuda, os descaminhos podem ir da ansiedade ao suicídio. “Quando esse estresse supera o nível que o organismo resiste, os sinais começam a aparecer. Pode redundar em não dormir bem, perder o apetite ou ter apetite exagerado, diarreia, dores que são suportáveis para outras pessoas, mas são muito grandes para os que estão com equilíbrio emocional desorganizado”, salienta.

Para ele, os médicos são motivados pelo desejo de salvar vidas mas a que chamar a atenção não só da classe médica, mas também da população para a peculiaridade da profissão e os riscos que envolvem esse labor. “Falta de condições de trabalho, excesso de carga horária, a tensão da relação médico-paciente são alguns fatores que aumentam a vulnerabilidade do médico em relação a outras profissões. É alguém que precisa conviver com a frustração de não ter salvado uma vida. Às vezes, por imaturidade ou por se considerar um ‘semideus’ sofre mais que os outros”, enfatiza. Lippi acredita que os profissionais precisam se livrar das amarras da onipotência de acharem que sabem de tudo, de deixar a vergonha de lado e procurar ajuda. “Nenhum médico é obrigado a saber toda a medicina, os colegas estão aí para isso”, diz.

Lippi afirma que a depressão é a doença mental mais comum entre os médicos, inclusive entre os psiquiatras. “Todos são suscetíveis a patologias de ordem mental, principalmente aqueles que não se cuidam. É importante lembrar que o remédio cuida do sintoma, mas as causas precisam de atenção na psicoterapia. O médico pode ser um bom ‘receitador’, mas se não souber o que o cliente tem, não vai resolver o problema”, explica. Por isso, a automedicação não deve ser vista como solução.

Suicídio 
“Os médicos se suicidam cinco vezes mais que a população geral”, afirma a psiquiatra Alexandrina Meleiro, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), coordenadora da Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio da ABP e membro do Grupo de Atenção da Saúde Mental do Médico. Apesar de ser uma atitude drástica, a Organização Mundial de Saúde (OMS) vem alertado para o aumento da incidência na taxa de suicídio: um milhão de pessoas se mata no mundo anualmente ou uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, observa-se um crescimento de 30% no suicídio entre jovens do sexo masculino nas últimas décadas. Entre os médicos, segundo Alexandrina, os mais vulneráveis estão na faixa etária de 35 a 50 anos.

Suicídio tem prevenção. Isso por que a quase totalidade dos casos – 99% - está associada a um transtorno psiquiátrico. A saúde mental é negligenciada por motivos que vão desde a falta de uma rede de apoio organizada para atender o paciente, no caso do Brasil, até não ser reconhecida socialmente como doença em muitos casos. No senso comum, por exemplo, a depressão é confundida com episódios de tristeza e desventuras da vida. Todo esse contexto de preconceito, falta de informação e tabu agrava a busca por ajuda quando o doente é o médico. Problemas de ordem mental ainda são vistos como motivo de vergonha e assunto para – se for para conversar – que seja baixo para ninguém ouvir. Enquanto isso, pessoas têm suas vidas desestruturadas, muitas tentam se matar para amenizar o sofrimento e outras tantas conseguem.

O suicídio é um tema tão complicado que é estimado um número de vítimas duas ou três vezes maior em razão da subnotificação ao registrar a causa da morte. Curiosamente, no caso de médicos, a psiquiatra Alexandrina Meleiro aponta em artigo intitulado ‘Suicídio na população médica: qual a realidade? ’, publicada na edição deste mês da Revista Brasileira de Medicina, uma situação contrária. “Na população geral, existe uma tendência de o médico não registrar que a causa da morte foi por suicídio. Geralmente, registra-se a causa externa da internação, como, por exemplo, queda de altura, envenenamento, intoxicação exógena (excesso de remédio). Um levantamento de atestados de óbitos feito pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) mostrou que, quando a profissão da vítima era a medicina, a palavra suicídio aparecia. Uma das hipóteses é que, por se tratar de um colega, o rigor da notificação é maior. E aí fica a pergunta: será que, de fato, os médicos se suicidam mais ou houve um zelo maior quando se tratava de médico? A resposta eu não sei”, problematiza a psiquiatra.

Alexandrina Meleiro afirma que outra razão para a subnotificação na população geral é que os seguros de saúde e seguros de vida geralmente não cobrem situações de ato voluntário contra a própria vida. “É comum na prática médica registrar a causa externa para proteger a família da vítima”, explica.

O levantamento do CREMESP publicado em 2012 mostra também que, entre as causas externas de morte de médicos em São Paulo, o suicídio aparece em segundo lugar: 21% no caso das mulheres e 18% em homens (veja gráfico). Em primeiro, está o acidente automobilístico, mas para Alexandrina Meleiro, paira uma dúvida: “Foi um acidente de fato ou a vítima usou o carro como meio de suicídio?”, questiona. “Temos um alto índice de mortes por acidentes automobilísticos entre os médicos jovens e não há diferença entre os gêneros. Há um quadro autodestrutivo em que indivíduo teria alguma intenção suicida, são os chamados ‘autocídios’”, explica.
Tipo de morte por causas externas descritas como causa básica de morte de médicos no Estado de São Paulo entre os anos de 2000 e 2009, de acordo com o gênero (Dados sobre mortalidade dos médicos no Estado de São Paulo, CREMESP, 2012)
Meleiro aponta algumas hipóteses em relação ao comportamento dos médicos que cometem suicídio:
1. Manifestam especial vulnerabilidade ou experiências de eventos circunstanciais diferentes (recente perda profissional ou pessoal, problemas financeiros ou de licença) em relação aos outros médicos;
2. Tendem a trabalhar mais horas que os outros colegas;
3. Tendem a abusar de álcool e outras substâncias;
4. Estão mais insatisfeitos com suas carreiras médicas que outros médicos;
5. Dão sinais de aviso da intenção de suicidar-se a outros;
6. Têm transtorno mental e emocional com mais frequência;
7. Tiveram dificuldades na infância e seus problemas familiares são comuns;
8. Automedicam-se mais frequentemente que os outros colegas

Dependência química 

Trabalho realizado em 2004 na Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) intitulado ‘Perfil Clínico e Demográfico de Médicos com Dependência Química’ mostra que os médicos apresentam taxas similares de uso nocivo e dependência de substâncias em relação à população geral. A incidência varia entre 8% e 14%. O estudo coletou dados de 198 médicos em tratamento ambulatorial por uso nocivo e dependência química.

A frequência de uso nocivo e dependência de opióides (anestésicos derivados da morfina) e BZD ou benzodiazepínicos (popularmente conhecidos como tranquilizantes de tarja preta) é aproximadamente cinco vezes maior entre os médicos que na população geral. Alexandrina Meleiro aponta que o uso de opióides é motivo de suicídio principalmente entre anestesistas.

José Raimundo Lippi alerta ainda que a facilidade de acesso a esses opiácios é uma porta de entrada para a dependência química entre médicos. “Drogas medicinais que só são encontradas em hospitais, principalmente as medicações usadas em anestesia, aparecem como solução para o alívio de tensão”, afirma. Gráficos abaixo mostram alguns resultados do estudo da Unifesp:

Drogas mais consumidas entre os médicos acompanhados:


Especialidades médica mais envolvidas em dependência química:
'Perfil Clínico e Demográfico de Médicos com Dependência Química', trabalho realizado em 2004 na Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Escola Paulista de Medicina (Unifesp)


O estudo mostrou também os diagnósticos mais encontrados. Em primeiro apareceu a depressão, seguida de transtorno afetivo bipolar e transtornos de personalidade. Na sequência, esquizofrenia e transtorno de ansiedade generalizada. Os pesquisadores apontaram ainda as situações facilitadoras para dependência de drogas. Veja:
 1) acesso fácil aos medicamentos
2) perda do tabu em relação a injeções
3) história familiar de dependência
4) problemas emocionais
5) estresse no trabalho e em casa
6) busca de emoções fortes
7) auto-administração no tratamento para dor e para o humor
8) fadiga crônica
9) onipotência e padrão de prescrição exagerada
10) os de especialidade de alto risco (Anestesiologia, Emergência e Psiquiatria)

DEPOIMENTO:
Super-herói de carne e osso
Uma médica e professora universitária de Belo Horizonte que não quer ser identificada conversou com o Saúde Plena. Ela será chamada de Márcia e conta que já se envolveu emocionalmente em histórias não apenas de colegas de profissão, mas de amigos e nomes de referências na medicina que se perderam em jornadas exorbitantes de trabalho que, segundo ela, variam entre 80 a 100 horas semanais. “O médico tem adoecido por um excesso de cobrança, falta de descanso, de sono reparador, uma dieta inadequada, falta de tempo com a família e de uma atividade física, um quadro que leva a uma sobrecarga mental. A carga de responsabilidade é tão grande que muitas vezes conduz a um estado de exaustão”, afirma ela. 

Nas três histórias que Márcia acompanhou de perto os profissionais não procuraram ajuda. “A fiscalização não é rígida a esse ponto. O médico pode, por exemplo, prescrever o remédio para esposa, mas para ele usar. Eu mesma já prescrevi para mim. Às vezes é uma questão de praticidade e pode começar com um medicamento para ajudar a dormir. No meu caso, nunca me tratei sozinha e nunca fui dependente de nada, mas tenho várias histórias para contar de ex-professores e amigos. Eles precisaram ser afastados e, em alguns casos, se envolveram até em problemas judiciais”, relata. 

O primeiro foi de uma professora referência em trauma com atuação no setor de urgência e emergências de hospitais na cidade. “Era uma pessoa extremamente capacitada, mas tinha uma jornada de trabalho de quase 100 horas semanais. Ela amava o trabalho que fazia e não era casada. Não cuidava quase nada da vida pessoal. Foi quando começou a injetar no próprio corpo um medicamento chamado fentanil que traz uma sensação de alívio, mas é perigosíssimo porque causa várias alterações no organismo e pode até provocar a morte das pessoas. Ela entrou num ciclo de vício tão grande que começou a roubar o remédio do hospital para sustentar o vício. Lembro de um dia ela chegar na sala de aula com a marca do garrote no braço. Foi um choque muito grande por ela ser uma referência para inúmeros profissionais e parou, inclusive, de exercer a medicina”, conta.

Márcia também se recorda de uma história que, infelizmente acabou em morte. “Ele era um padrinho na medicina para mim. Além da graduação em medicina, tinha também a de farmácia. É um exemplo de um profissional que trabalhava muito e começou a oscilar entre buscar uma vida mais equilibrada e entrar na destruição total. Nesse período, os colegas mais próximos costumavam brincar que ele tinha a época do zig, em que comia bem, dormia bem, não bebia e fazia exercício físico; e a época do zag, em que bebia todos os dias e, por compulsão alimentar, comia tudo que viesse na cabeça. Teve um dia em que ele foi buscar umas daquelas fitinhas de exame para detecção de glicose na urina e foi ao banheiro. Como ficou um pouco de urina na mão dele e ele segurou as fitinhas, fez o exame e acabou descobrindo que estava diabético. A pressão arterial dele também era desequilibrada e, aos 53 anos, faleceu de infarto agudo do miocárdio”, recorda-se. 

A médica cita também o caso de uma colega casada e com filhos que pegava muitos plantões por semana para, segundo Márcia, pagar as contas. “Ela não descansava. Uma noite, saindo de um desses plantões, foi convidada para tomar cerveja e aceitou. Alguém ofereceu para ela um cigarro que tinha crack. Ela fumou sem saber e começou a se viciar. Tenho amigos que chegaram a buscá-la em cracolândia completamente fora de si. Já faz três anos que ela está em fase de recuperação”, narra. Para ela, a colega descobriu no crack um mecanismo de fuga para aliviar a tensão e tirá-la da rotina maçante.

Márcia acredita que a sensação de uma suposta autossuficiência dificulta que o médico procure ajuda. “Sou médico, sei me tratar. É como se o médico não pudesse fracassar e não pudesse mostrar esse lado humano. E a sociedade ainda acha que o médico sempre tem que dar conta, mas somos um super-herói de carne e osso, tão carne e osso quanto o paciente”, pondera. Para ela, é importante refletir: “até que ponto vale a pena trabalhar tanto parar sustentar um padrão de vida?”. 

A médica diz que gostaria de convidar os colegas a refletir sobre os seguintes pontos: tempo de jornada de trabalho, tempo para praticar exercício físico, tempo para estar com os filhos e com a família, cuidado com a alimentação. Ela cita o modelo ‘Dahlgren & Whitehead’ de qualidade de vida para nortear a atenção que as pessoas devem dar aos fatores que estão relacionados à saúde. Veja: 
Modelo 'Dahlgren & Whitehead' de qualidade de vida

http://sites.uai.com.br/app/noticia/saudeplena/noticias/2014/03/27/noticia_saudeplena,148058/falta-de-cuidado-com-a-saude-mental-leva-medicos-a-depressao-dependen.shtml

Se você ou alguém que você conhece precisa de ajuda ligue para o número do CVV: 141 e procure ajuda especializada.






Homens brancos não falam de seus sentimentos... Eles se suicidam


        “Ser homem” deveria ser acrescentado à lista de fatores de risco de suicídio.

Nos Estados Unidos, há uma média de 117 suicídios todos os dias.
Em 2014, 7 em cada 10 dessas mortes foram de homens.
Por muitos anos, esse tem sido o assunto: Os homens tiram suas próprias vidas a uma taxa quase quatro vezes maior do que as mulheres. As crescentes taxas de suicídio em homens têm sido chamadas de uma "epidemia" pelos principais jornais e médicas.
Quase todo mundo sabe sobre este fato e esta estatística apenas representa as mortes por suicídio confirmadas. O verdadeiro número de suicídios masculinos é provavelmente muito maior: homens bebem até a morte, basicamente se automedicando para evitar dores emocionais intoleráveis e se envolvem em comportamentos extremamente arriscados, frequentemente levando a mortes prematuras “acidentais” como forma de distração da realidade de suas vidas. Sem dúvida, o suicídio é um fenômeno que afeta desproporcionalmente os homens.
O que é ainda mais preocupante, tendo em conta estas estatísticas, é que os homens em comparação com as mulheres ainda têm metade da probabilidade de serem diagnosticados com depressão. Isto significa que, embora os homens estejam sofrendo, eles não estão procurando ajuda e, quando procuram, não estão recebendo o tratamento adequado.
Se o suicídio deve ser abordado eficazmente, ele precisa ser entendido. Isto significa falar abertamente sobre o grupo humano a que pertencem as vítimas; quem eles são e por que cometem suicídio, para começar. Boa parte das pesquisas mencionam os adolescentes, veteranos de guerra e comunidades aborígenes como tendo taxas desproporcionalmente altas de suicídio. Mas não menciona os homens, em si, como um grupo de corte. Entretanto, o fato é que o suicídio é completado mais por homens e, como raça, nos Estados Unidos e possivelmente no mundo, os homens brancos são os que apresentam a maior incidência de suicídio. Na década de 1990, a maioria esmagadora dos suicídios nos Estados Unidos foi cometida por homens brancos (73%), seguida de mulheres brancas (18%), homens negros (6%) e mulheres negras (1%).
Nós falamos com o Dr. John Oliffe, fundador e principal investigador do programa de Pesquisa em Saúde Masculina da Universidade British Columbia, para explorar algumas das razões por que as taxas de suicídio são tão altamente desproporcionais entre os homens, e aprender o que é preciso fazer para dar suporte aos homens e o que eles precisam saber para entender que é legal e importante pedir ajuda. Afinal, por que isso acontece?
Aqui estão alguns fatores potenciais:
1. Os sintomas da depressão são mais difíceis de ser detectados nos homens.
Dr. Oliffe explica que, mesmo quando os homens procuram ajuda muitas vezes apresentam sintomas que geralmente não são associados com depressão.
"Irritabilidade, overdose de álcool, colocar-se em situações de risco. Estes podem ser sintomas depressivos em um homem ", disse ele. "Mas os médicos, clínicos, não avaliam dessa forma."
Isso não quer dizer que homens nunca choram ou não mostram o que pode ser considerado de sintomas "estereotipados", mas isso não significa que fica mais fácil detectar os sinais de alerta para depressão ou algo mais grave.
O Dr. Oliffe disse que se deparou com esse problema em sua pesquisa. Ele viu o quanto é difícil identificar quando os homens estão deprimidos, e quando entrevistados, raramente vão usar a palavra "depressão" para descrever o quadro de como se sentem, optando geralmente pela palavra "estressado". 
De acordo com o HeadsUpGuys, um recurso online para homens que enfrentam a depressão  e que fornece informações e dicas de práticas para gerir e prevenir a depressão nos homens, ao explicar que outros sinais de depressão incluem mudança significativa de peso, perda de concentração, comportamento imprudente e dores físicas, como dores nas costas e dores de cabeça – esses sinais são facilmente confundidos por quem acha que a depressão é apenas tristeza, com isso parando de pensar que, de fato, podem estar desenvolvendo um transtorno bem mais grave.
2. Os homens não se sentem à vontade em ​​expressar suas emoções, por isso estão mais propensos a se isolarem.
Se um homem pensa e se sente que ele sempre tem que ser "forte" - e, portanto, não pode ficar vulnerável - ele pode começar a isolar-se, em vez de se abrir e falar com alguém sobre o que está acontecendo. Isto é especialmente perigoso, considerando que a falta de conexão com outros, familiares e amigoso isolamento, é um dos principais fatores de risco para uma tentativa de suicídio. 
"Não se trata apenas do cara ficar solitário num canto", explicou Dr. Oliffe. "Eles podem até ter pessoas ao seu redor, mas eles simplesmente não estão conectados com essas pessoas."
3. Os homens são mais propensos a tentar o suicídio usando meios mais mortais.
Ao tentar o suicídio, os homens são mais propensos do que as mulheres a usar meios mais mortais. Um estudo descobriu que 62 % dos homens contra 40% das mulheres, usaram o enforcamento ou armas de fogo em suas ações suicidas. Isso significa que para cada tentativa de suicídio que acorra, é bem mais provável que um homem venha realmente morrer.
Todos os homens são diferentes. Mas se você tem um homem em sua vida com quem está especialmente preocupado, aqui estão algumas coisas ditas pelo Dr. Oliffe que podem ajudar:
Não lhe tirar a sensação de controle: Se um homem se recusa a procurar ajuda, sugira apenas, chegando a ele de uma forma não conflituosa ou impositiva, mas encorajando-o a procurar ajuda de uma forma que ele se sinta que permanece no controle sobre a situação.
Procure apoio na comunidade:  Dr. Oliffe sugere alternativas que se ofereçam para as vias tradicionais de receber apoio. Se um homem se recusa a ver um médico ou um psicólogo, talvez haja algum tipo de serviço baseado na comunidade onde você mora, como a igreja ou centros comunitários, onde você pode indicar-lhe para obter aconselhamento.
Acompanhamento:  A recuperação é um processo as vezes lento e difícil e que, portanto, não significa que não haverá armadilhas ou recaídas mais na frente. É preciso continuar a ser solidário e paciente ao longo do processo de recuperação. 
Informá-lo sobre depressão e doença mental:  Depressão e outras doenças mentais não são fraquezas. É preciso deixar isso bem claro! Muitos homens permanecem em silêncio em seu sofrimento porque temem ser julgados e estigmatizados por não conseguirem viver de acordo com os padrões estabelecidos de masculinidade que lhes impõem que sejam fortes e invulneráveis. Sofrer de depressão não faz de nenhum homem "menos homem." Encoraje-o a se informar sobre depressão.
Começar a quebrar o silêncio e estimular a conversa sobre a questão da depressão e suicídio masculino, precisam acontecer já. E isso começa com cada um de nós.


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Textos originais: Why We're Losing So Many Men to Suicide – and What We Can Do About It  By Sarah Schuster http://themighty.com/2016/03/why-were-losing-s0-many-men-to-suicide-and-what-we-can-do-about-it2/
Com acréscimos do texto: O relógio corre em suicídios masculinos By Peter Wright http://br.avoiceformen.com/recomendados/o-relogio-corre-em-suicidios-masculinos/

Tradução livre e adaptada

domingo, 24 de julho de 2016

É hora de reconhecer e evitar a tragédia do suicídio de médicos


Rembrandt : A Lição de Anatomia do Dr. Tulp (1632) 

O suicídio entre estudantes de medicina e médicos tem sido um fenômeno em grande parte não reconhecido por décadas, obscurecido por segredo e vergonha.

Em um estudo de seis escolas médicas, cerca de 1 em cada 4 alunos relataram sintomas clinicamente significativos de depressão. Quase 7% disseram que tinha pensado em acabar com suas vidas nas últimas duas semanas.



Segundo um estudo do Conselho Federal de Medicina, o tipo de morte por causas externas descritas como causa básica de morte de médicos no Estado de São Paulo, de acordo com o gênero, revelou que suicídios ocorrem mais entre as mulheres médicas, representando 3,1% do total de óbitos, enquanto nos homens é de 1,6%. A população feminina de médicas tem uma alta taxa de suicídio, comparada à população geral feminina e mesmo à população masculina de médicos. 

Existe grande resistência por parte da população em aceitar que as mesmas pessoas nas quais confia sua saúde podem vir a ter doenças mentais.


Aqui vai a revelação de um segredo lamentável que a maioria dos estudantes de medicina não sabem, até que seja tarde demais: Os médicos são mais propensos a tornarem-se deprimidos, sofrerem de síndrome de burnout e morrerem por suicídio do que outros homens e mulheres na população em geral. Às vezes, a depressão e o suicídio são o resultado de problemas que surgem muito lentamente e vêm de longa data. Outras vezes, eles parecem vir do nada.
Um dos meus papéis na Northwestern University Feinberg School of Medicine, onde trabalho, é de médica ligado à saúde. Uma sexta-feira à tarde, recebi um telefonema de carácter urgente de um médico anestesista. Quando liguei de volta, ele me contou sobre uma cirurgia que tinha sido terrivelmente complicada na semana anterior - e como ele agora estava pensando em suicídio.
Ele é um residente sênior e tinha administrado anestesia a um jovem em um procedimento relativamente rotineiro. Seu paciente havia recebido alta e foi para casa no final do dia. Na manhã seguinte, o jovem foi encontrado morto em sua cama.
Meu colega, que tinha construído uma importante reputação ao longo de três décadas de prática, ficou devastado. Ele nunca tinha experimentado nada parecido com a morte deste paciente. Ele não conseguiu dormir naquela noite depois de receber a notícia, e não tinha dormido mais de duas ou três horas por noite desde então. Ele tem ido trabalhar todos os dias, mas tem tido dificuldades para comer e se concentrar em seu trabalho clínico. Disse que analisou o seu procedimento várias e várias vezes, tentando determinar o que, ou se alguma coisa, poderia ter sido feita de forma melhor ou diferente. E também falou que não conseguia parar de pensar na imagem da visão dos rostos dos pais chocados e de luto pela morte do seu paciente.
Com sua confiança profundamente abalada, ele questionou se  deveria continuar exercendo a medicina. Falou que se sentia isolado, apesar de alguma solidariedade recebida de outros colegas médicos e, acima de tudo, sentia-se profundamente envergonhado - do que, ele não tinha certeza.
Nós conseguimos que se licenciasse por uma semana, e começou a fazer terapia. Com a ajuda de alguma medicação para ajudá-lo a dormir, e ser capaz de processar sua experiência comigo, ele começou a se sentir melhor e já não tinha pensamentos suicidas.
A cada ano nos Estados Unidos, de 300 a 400 médicos morrem de suicídio - que é um por dia, ou o equivalente a duas classes de uma escola médica de grande porte. As médicas são 2,3 vezes mais propensas a morrer por suicídio do que outras mulheres na população em geral; médicos do sexo masculino, 1,4 vezes mais provável. A terrível verdade sobre o suicídio de médicos é que a grande maioria destas mortes são devido a uma depressão que não é tratada, o que significa que poderiam ter sido e podem, sim, ser evitadas.
Grande parte do estresse crônico que os médicos experimentam é devido à cultura da formação médica, a natureza do nosso trabalho e o stress imposto pelo ambiente de cuidados na área da saúde atual.  Trabalhamos diariamente com a tragédia humana, com a doença, morte e perda. Muitos de nós não têm um tempo livre de descanso emocional ou para analisar o que ocorreu, após eventos adversos ou a morte de pacientes. Em vez disso, simplesmente passamos para o atendimento ao próximo paciente. Não é à toa que mais da metade dos médicos relatam terem tido bournout.
Ainda mais preocupante, a maioria dos médicos que sofrem de esgotamento ou depressão não procuram tratamento. E embora sendo os que deveriam ter mais consciência, os médicos têm o estigma internalizado de longa data sobre o tratamento em saúde mental, acreditando que ele representa fraqueza e vulnerabilidade. Começando nas escolas de medicina, médicos em treinamento tendem a evitar tratamento em saúde mental por causa de temores sobre privacidade, confidencialidade, e como isso pode afetar negativamente sua autoimagem como médico e suas carreiras futuras. Tais atitudes persistem, e mesmo se reforçam, através dos anos e de suas carreiras como médicos.
É hora de reconhecermos que os médicos que passam tanto tempo de suas vidas cuidando das outras pessoas muitas vezes sofrem em silêncio e necessitam de cuidados, e intervenções eficazes seriam um bom remédio para todos nós.



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Texto original: It’s time to recognize and prevent the tragedy of physician suicide By JOAN M. ANZIA  / JULY 21, 2016.
Joan M. Anzia, MD, é uma psiquiatra da Northwestern Medicine e uma professora de psiquiatria e ciências comportamentais e médica, e dirige o programa de residência na Northwestern University Feinberg School of Medicine.
https://www.statnews.com/2016/07/21/suicide-physicians/
Tradução livre e adaptada


quinta-feira, 21 de julho de 2016

Para os que dizem "Depressão é falta de Deus no coração”


Deixe-me começar falando uma coisa. Eu sou uma cristã. Eu acredito em Deus, porque Deus sabe que eu preciso de ajuda tanto quanto qualquer outra pessoa precisa.
 Eu também tenho transtorno depressivo maior. O fato de eu ter esse transtorno não me faz menos cristã. No entanto, várias vezes já aconteceu de eu ouvir de pessoas na igreja que eu frequento e, geralmente, de pessoas religiosas ao comentarem sobre depressão, que indivíduos como eu deveriam ter mais fé em Deus e deveriam orar com mais força, como se a depressão fosse puramente uma falta de fé. E isso não é só. Sei de casos de muitas outras pessoas com depressão a quem foi dito muito clara e diretamente que elas conseguiriam livrar-se de sua depressão apenas com a oração.
Há um monte de problemas com esta linha de pensamento, de modo que eu quero me dirigir aqueles que fazem tal comentário em relação a mim ou qualquer outra pessoa que sofre de um transtorno depressivo. Aqui está o que eu quero dizer a você.
Em primeiro lugar: A doença mental, incluindo depressão, é uma doença no cérebro. Isto já foi demonstrado repetidamente por inúmeras pesquisas. Então, se você não vê a depressão como uma condição médica, por favor, olhe para as inúmeras pesquisas antes de fazer comentários desinformados e sem instrução.
Em segundo lugar, eu vou aceitar a sua maneira de pensar por um momento. Vamos fingir que depressão não seja uma condição médica (mas é, repito, caso eu não tenha deixado isso claro ainda). Como isso ajuda as pessoas com depressão a se sentirem menos horríveis e culpadas? Ninguém vai se colocar na sua perspectiva, se você falar e fizer afirmações sobre algo que você não conhece, julgando-as de uma forma dura e preconceituosa.
Assim, uma vez que estamos de acordo que a depressão é uma condição médica (eu acho que nós temos isso muito comprovado atualmente, certo?), eu quero te perguntar uma coisa.  Você diria a alguém com uma outra condição médica para apenas orar fervorosamente, com muita fé, e não para ir a um médico? Você diria aos pais que a culpa é deles e que eles deveriam ter criado essa pessoa para ter mais fé? Será que você põe a culpa e a responsabilidade na própria pessoa quando ela tem outro tipo de problema de saúde? Será que você diz às outras pessoas com qualquer outra condição médica para não tomar os seus medicamentos? Eu acho que a maioria das pessoas não fazem isso. Eu acho que a maioria das pessoas iria aproximar-se com amor e compaixão, porque eles entendem que estas circunstâncias que levam a um adoecimento estão fora de controle, do controle de qualquer um. Com a depressão é exatamente o mesmo. É uma condição médica completamente fora do controle da pessoa que a sofre, e as pessoas que lidam com ela devem ser apoiadas da mesma forma como qualquer outra pessoa com qualquer outra condição médica. Entende isso?
Um diagnóstico de depressão não deve ser um interruptor automático que faz a pessoa ser abandonada por sua igreja. Há uma forma de apoiar  a quem sofre com depressão através da igreja, sem abandoná-los. Eu sei porque eu tenho uma igreja que faz isso. Eu tenho uma igreja onde eu posso testemunhar ao meu pastor sobre a minha depressão e ele vai responder dizendo algo como "Sinto muito que você esteja passando por um momento medicamente tão difícil. Saiba que estamos orando por você e você não está sozinha." Na igreja onde quando eu disse ao pastor sênior que eu estava lidando com pensamentos suicidas, ele respondeu com incentivo e me lembrou que eu era amada, não importa o que estivesse acontecendo. Isto é como a igreja e as pessoas que se dizem religiosas devem tratar as pessoas com depressão. Deve tratá-los com bondade e compaixão como se tivessem com qualquer outra condição médica, não deve culpá-las para as dificuldades que estamos enfrentando e não deve fazê-las se sentir culpadas ou envergonhadas.
Lembre-se que as pessoas com depressão são apenas pessoas, como você ou eu. Elas estão passando por algo que está fora de seu controle, e isso afeta suas vidas de forma dolorosa e debilitante. Trate-as com o respeito, a compaixão e bondade que merecem. Não as abandone. A depressão é apenas uma outra condição médica.


Se você ou alguém que você conhece precisa de ajuda ligue para o número do CVV: 188 e procure ajuda especializada.


Texto original: To Those Who Think I Can 'Pray Away' Depression By Christa T.http://themighty.com/2016/07/how-the-church-should-treat-people-with-depression/
 Tradução livre e adaptada



domingo, 17 de julho de 2016

Religião, suicídio e dúvida

São Francisco / Cândido Portinari



“Nesta vida morrer não é difícil. O difícil é a vida e o ofício de viver. ”  
(Vladimir Maiakóvski)

"Existem alguns neuróticos em quem, a julgar por todas as suas reações, o instinto de autopreservação na realidade foi invertido. Eles parecem visar a nada mais que à autolesão e à autodestruição. É possível também que as pessoas que, de fato, terminam por cometer suicídio pertençam a esse grupo. É de se presumir que, em tais pessoas, efetuaram-se defusões de instinto de grandes consequências, em consequência do que houve uma liberação de quantidades excessivas do instinto destrutivo voltado para dentro. Os pacientes dessa espécie não podem tolerar o restabelecimento mediante o nosso tratamento e lutam contra ele com todas as suas forças. Mas temos de confessar que se trata de caso que ainda não conseguimos explicar completamente." 
(Freud em "Moisés e o Monoteísmo", 1938)


RESUMO: Estima-se que aproximadamente um milhão de pessoas comete suicídio anualmente, índice alarmante que fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevar o suicídio à categoria de grave problema da saúde pública. E como a maior parte da população no mundo professa algum tipo de religião, tornam-se relevantes ensaios e estudos sobre a relação entre religião e suicídio. Nos ensaios de Dostoiévski encontramos um dos mais célebres argumentos filosóficos sobre a crença na imortalidade da alma como fator de proteção ao comportamento suicida. Crenças religiosas que, de fato, diversas pesquisas científicas no campo da suicidologia têm apontado como importantes fatores de proteção. Embora ressalvando o valor dessas pesquisas, nesse ensaio o autor procura apresentar argumentos ressaltando a importância também da dúvida como fator de proteção ao suicídio.
 PALAVRAS-CHAVE: suicídio, imortalidade da alma, dúvida

Não sei entender o suicídio de uma outra forma senão como uma psicose. Não apenas como um surto, um instante de crise em que o indivíduo está “fora de si” e, por isso, se ataca procurando aniquilar-se. Mas como um movimento delirante cuja evolução vai distanciando a pessoa da realidade e de si mesma, em um crescendo, impermeabilizando-a da influência contrária às suas ideações suicidas, seus argumentos e decisão de matar-se; distanciando-a de seus apoios sociais, de seus familiares, do afeto dos amigos, anulando todo suporte pessoal e isolando-a em suas próprias ideias, convicções e impulsos autodestrutivos, tornando-a inexpugnável até o desfecho trágico de pôr fim a sua própria vida.
É simplismo falar em egoísmo na decisão daquele que se mata, ao não pensar no sofrimento dos que ficam. Porque no auge da dor emocional insuportável que carrega, sua única e delirante vontade passa a ser o de livrar-se dessa dor. Não há futuro, esperança, solução que não seja a sua própria morte.
De fora podemos até mesmo analisá-la como uma decisão equivocada, porque, como afirmam os especialistas:
  “... O suicida não está querendo necessariamente matar-se, mas matar uma parte de si mesmo. No entanto, isso é impossível, e ele, como que num engano, acaba matando-se e morrendo inteiro”. (Cassorla, 1994).
 E na ambivalência feroz em que se encontra mergulhado, os núcleos e componentes psicóticos de sua personalidade acabam dominando suas partes sadias e racionais e o indivíduo acaba concretizando o ato.
Entretanto o movimento é esse: de isolamento, de impermeabilização cognitiva e emocional, num solipsismo doentio e cada vez mais profundo até o desfecho de sua autoeliminação. Quem já teve alguém bem próximo, profissionalmente, um paciente, ou um amigo ou parente que já fez uma tentativa de suicídio ou perpetrou sua própria morte, se fizer agora uma autópsia psicológica primária vai reconhecer que o movimento é exatamente esse. E cujo fim, no final das contas, é deixar a todos a sua volta numa sensação abismal de choque, impotência e culpa porque julgam que algo mais deveriam ter feito para evitar a tragédia. Não sem motivos o termo “sobreviventes” foi cunhado para designar a esses que ficam...
O escritor russo Fiódor M. Dostoiévski (1821-1881), em dois artigos escritos em 1876, na obra Diário de um Escritor, sustenta a tese de que é a crença na imortalidade da alma individual que sustaria esse movimento, porque – paradoxalmente – essa crença funcionaria como uma força de atração gravitacional a nos manter vivos e a prender nossa existência à Terra.
Vejamos alguns trechos principais de seus artigos que servirão para nossas análises:
“Meu artigo é relativo à ideia mais elevada da vida humana: a necessidade, a indispensabilidade da crença na imortalidade da alma. Quis dizer que sem essa crença a vida humana se torna ininteligível e insuportável”.
Outro, e o mais importante:
“Em resumo: está claro que sem crenças, o suicídio se torna lógico e até inevitável para o homem que apenas se elevou acima das sensações comuns. Ao contrário, a ideia da imortalidade da alma, prometendo a vida eterna, sujeita o homem mais fortemente à Terra. Nisto parece existir contradição. Se, distinta da vida terrestre, temos outra celeste, para que fazer muito caso desta aqui em baixo? Mas somente pela fé na imortalidade que o homem se inicia no fim razoável da vida sobre a Terra. Sem a convicção na imortalidade da alma, o vínculo do homem em relação ao planeta diminui, e a perda do sentido supremo da vida conduz incontestavelmente ao suicídio. E se a crença na imortalidade da alma é tão necessária à vida humana é por ser o estado normal da Humanidade, provando que a imortalidade existe. Em uma palavra: esta crença é a própria vida e a primeira fonte de verdade e consciência real para a Humanidade”.
Por fim:
“Disse N. P., que semelhante confissão em meu Diário constitui anacronismo ridículo, porque estamos atualmente no século das “ideias de ferro”, das ideias positivas; no século da “vida sobretudo”. Por isso, sem dúvida, aumentou tanto o número de suicidas entre pessoas inteligentes e cultas. ”
“Onde, então, está o mal? Em que se enganou? O mal está em ter perdido a fé na imortalidade da alma. ”
De acordo com Dostoiévski o homem sem fé, destituído de crença, estaria livre para soltar as amarras da âncora gravitacional que o prendem à vida uma vez que se a imortalidade não existe e a vida resume-se em ser uma transição entre um nada anterior ao nascimento e o nada depois da morte, tudo se lhe permite. Isto é, se é o nada mesmo que nos espera por que não acabar com a vida quando na balança da existência o prato do sofrimento é mais pesado e encontra-se em vantagem sobre o prato do prazer, da alegria de viver e das realizações consistentes?
Essa tese de Dostoiévski: a crença na imortalidade da alma como fator impeditivo do suicídio em que o medo do desconhecido é maior do que o medo de enfrentar o aqui e agora é confirmada, às vezes, no depoimento de alguns pacientes. Uma paciente espírita kardecista que sofre de um transtorno depressivo maior, em um período de crise e de ideação suicida obsessiva, certa vez me disse:
 “O que me impede de me matar nessas horas não é o amor que sinto pelo meu marido e a minha filha, e que eu sei ser retribuído porque eles me amam também. É uma coisa tão louca que nesses momentos o que me impede realmente é a religião. Eu não sei o que vou encontrar. Não sei se o inferno de lá é pior do que o inferno de cá”.

Dados fornecidos por pesquisas sobre a epidemiologia do suicídio, estudos ecológicos – estudos que não levam em conta variáveis de cada indivíduo, mas sim de países inteiros - apontam que a religião, de fato, aprece como um mecanismo de proteção contra o comportamento suicida:
“Um estudo mais detalhado sobre o impacto dos comportamentos e das crenças religiosas de 26 países nas taxas de suicídio foi conduzido por Neeleman e Lewis. Os autores demonstraram que não só a religião declarada, mas também a intensidade da participação nas atividades religiosas, a religiosidade e a criação religiosa apresentaram associações negativas com as taxas de suicídio, um efeito mais evidente (a associação negativa com o suicídio) em países menos religiosos em média”. (Correa e Barrero, 2006, pág. 19).
Botega e outros (2006) em uma pesquisa no qual apontam quais são os fatores de proteção e de risco à ocorrência do suicídio, destacando os pontos mais comuns presentes nos planos nacionais de prevenção ao suicídio de vários países, confirmam também essa importância da religiosidade:
“A prevenção do suicídio, faz-se por meio do reforço dos fatores ditos protetores e diminuição dos fatores de risco, tanto no nível individual como coletivo. Entre os primeiros, podemos citar bons vínculos afetivos, sensação de estar integrado a um grupo ou comunidade, religiosidade, estar casado ou com companheiro fixo, ter filhos pequenos. Pessoas com maior envolvimento religioso de um modo geral possuem menores taxas de suicídios. A religiosidade também auxilia no enfrentamento de doenças graves. Entre os muçulmanos as taxas de suicídio são mais baixas quando comparadas às outras religiões, provavelmente por causa do pesado julgamento moral sobre o suicídio e consequente senso de punição, além de outras características culturais, como por exemplo, a proibição do consumo de álcool.” (Botega e outros, PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 37, n. 3, pp. 213-220, set./dez. 2006).
 Igualmente estudos sobre resiliência têm apontado a religião como um fator que, para uma pessoa em particular pode contribuir para impedir o movimento que leva ao ato suicida.
É necessário reconhecer, no entanto, que muitas fantasias religiosas percorrem o imaginário de muitos dos que se matam. Análises de cartas e bilhetes, nas assim chamadas “mensagens de adeus” (Dias, 1991), deixados por suicidas são esclarecedoras sobre o conteúdo religioso a respeito da morte e do que se espera encontrar do outro lado. Esses depoimentos mostram como, para alguns, a morte simplesmente é negada como forma de desaparecimento real e acreditam verdadeiramente que continuarão vivos; para outros, a morte é vista como possibilidade de reencontro com aqueles que foram antes, parentes e pessoas amadas ou ainda como forma de libertação de uma situação humana muito difícil e de renascimento pós-morte. Ideias que configuram simbolicamente a ligação com uma religiosidade, onde:
“a finitude humana é substituída por uma noção de entrada para a eternidade desejada na vida, e a vivência do sujeito suicida parece coincidir com a transposição de uma porta para um estado também vivo” (Dias, 1991).
E cuja situação em quase nada se diferenciará da vida atual.
Portanto, é preciso considerar que na ambivalência característica do comportamento suicida, muitos travam uma batalha íntima, avassaladora, com suas crenças e valores opostos e negadores do ato, até enfim consumá-lo. De qualquer forma, e é o que a tese de Dostoiévski advogaria, um programa fecundo de prevenção do suicídio deveria conter o item da âncora gravitacional da crença religiosa – como fator de proteção – porque mesmo sendo resultado de um movimento e de uma decisão íntima e pessoal, os estudos demonstram, desde as pesquisas realizadas pelo sociólogo francês Èmile Durkheim (1858-1917) com a publicação de seu livro O Suicídio, a existência de uma interação entre os valores individuais e a cultura na qual estamos inseridos, comprovando a influência do meio social e da religião sobre as taxas de suicídio, seja propiciando a facilitação de sua ocorrência, seja como limitantes.
Muito bem, mas o quê isso significaria? O impeditivo do suicídio para alguém em sofrimento insuportável seria apenas substituir uma morte, a real, por outra, a morte em vida, o que já é o cotidiano que precede a vida dos que se matam. Então o problema principal continuaria não resolvido. A pulsão famélica de morte, não saciada, furiosamente permaneceria a fazer seus estragos.
Então não seria talvez mais digno estendermos para os que se encontram afundados nesse delírio opressivo os mesmos direitos que se defende para os pacientes de doenças terminais? Por que não lhes permitir uma morte digna, assistida, já que a sua condição mental e emocional é a de um moribundo para o qual já não existe mais vida? Diante da dor terrível que carregam, sem nenhuma esperança de solução para eles, uma morte precoce não seria uma alternativa razoável? E nesse caso a vontade de morrer já se encontra instalada, estruturada, metabolizada pela personalidade. Dessa forma, por que não ter o direito fundamental de decidir sobre a sua própria vida?
Perguntas como essas trazem implicações filosóficas, teológicas, éticas e legais muito amplas e sérias. São questionamentos que provocam nossos valores pessoais, crenças e visões de mundo para além da esfera estritamente profissional do psicólogo que, cotidianamente, recebe em seu consultório pessoas com intenção de suicídio. Trata-se de um questionamento sobre se temos ou não o direito de tirar a própria vida!
Bem, então, como eu vejo o suicídio? Primeiro, como um profissional da área de saúde mental o meu posicionamento explicitamente é o de oposição ao suicídio. E penso que essa perspectiva de enxergar o suicídio como um ato negativo, como comportamento anormal, como algo que deve ser prevenido, tratado e evitado é um paradigma comum a todos os profissionais que atuam no campo da saúde mental. Não fosse assim não estariam em movimento todo um arsenal de pesquisas biomédicas, farmacológicas, de compreensão do fenômeno do suicídio, programas de prevenção, atenção primária e de ações psicoterápicas para combatê-lo e procurar diminuir sua incidência, que cada vez mais se agiganta no mundo atual.
Segundo, algumas crenças religiosas fazem parte da minha identidade própria como pessoa. Algo do que sou tem seus fundamentos, se construiu e edificou em função desses valores e crenças, sendo que a noção de imortalidade da alma é uma delas. Entretanto, fique claro, profissionalmente não me cabe – até porque esta restrição está escrita no código de ética do psicólogo – impingir meus próprios valores religiosos aos pacientes que me solicitam ajuda.
Entretanto, se não faço uma elegia da religião, se não devo fazer como faz Dostoiévski: a defesa e propaganda da ideia de imortalidade da alma de forma a combater o avanço das “ideias de ferro”, como ele denomina o ateísmo e o materialismo e que seriam, em parte, o substrato cultural correlacionado ao aumento do número de vítimas pela via do suicido, aqui faço, como uma estratégia de prevenção, um elogio à dúvida.
Porque, afinal, quando adentramos na densa floresta das questões humanas fundamentais, das questões humanas mais profundas, das questões sobre as quais têm se debruçado os pensadores de todos os tempos.... De verdade: nada sabemos.
E mesmo daquilo que já sabemos, nem de tudo temos clareza e nem tudo nos deu certeza. Há vida após a morte? O que acontece após o evento da morte do corpo físico? Somos apenas corpos físicos complexos ou possuímos uma alma? Nossas experiências subjetivas, pensamentos, sentimentos, emoções, resultam apenas de atividade eletroquímica de nossos cérebros? O cérebro é quem cria a consciência ou, ao contrário, a consciência existia antes de haver matéria? Quer saber, não sabemos. O que temos são perguntas, inúmeras perguntas na ilha de consciência em que existimos cercada por oceanos ainda insondáveis.
“É necessariamente verdade que todas as coisas que afirmamos em ciência, todas as conclusões que tiramos, são incertas, pois são apenas conclusões. São conjeturas sobre o que irá passar-se e não podemos saber exatamente o que vai passar-se porque nunca fazemos todas as experiências. É curioso como o efeito sobre a massa de um pião a girar é tão pequeno que podemos dizer “bem, não faz diferença nenhuma”. Mas chegar a uma lei correta, ou pelo menos a uma que se mantenha após crivos sucessivos, requer uma tremenda inteligência e imaginação e um completo remendo na nossa filosofia, na nossa compreensão do espaço e do tempo. Refiro-me à teoria da relatividade. Acontece que os efeitos insignificantes daí resultantes requerem sempre as mais revolucionárias modificações de ideias. Os cientistas estão, pois, habituados a lidar com a dúvida e a incerteza. Todo o conhecimento científico é incerto. E esta experiência com a dúvida e a incerteza é importante. Creio mesmo que tem um valor tão alto que se estende para lá da ciência. Creio que para resolver qualquer problema que ainda não tenha sido resolvido é preciso deixar entreaberta a porta para o desconhecido. É preciso manter aberta a possibilidade de não termos toda a razão. De outro modo, se já temos uma ideia predefinida, podemos não conseguir resolver nada.
Quando o cientista nos diz que não sabe a resposta, é um ignorante. Quando diz que tem um palpite sobre o modo como as coisas vão funcionar, está inseguro a esse respeito. Quando tem a certeza sobre o modo como as coisas irão passar-se e afirma “aposto que é assim que tudo vai passar-se”, ainda continua em dúvida. E para podermos progredir é de extrema importância que saibamos reconhecer essa ignorância e essa dúvida. É por termos dúvidas que nos propomos olhar em novas direções à procura de novas ideias. ” (Feynman, Richard, O Significado de Tudo, Gradiva, Lisboa, 2001, pp. 11-37).
Bem, se é esta a postura razoável que se deve adotar em um campo de pesquisas onde a realidade, até certo ponto, é palpável e observável o que se dizer a respeito do que possa ocorrer após o evento da morte do corpo físico? Não sabemos. Pesquisas sobre a consciência, existência fora do corpo, reencarnação, experiências de quase-morte, estão sendo atualmente capitaneadas pela ciência e desenvolvidas por importantes centros universitários do planeta de forma a ampliar o espectro do conhecimento humano sobre os limites da vida. Mas até o momento, de nada sabemos. E embora uma visão popular atualmente predominante no campo das Neurociências queira definitivamente responder que “você, suas alegrias e tristezas, suas memórias e ambições, sua noção de identidade e seu livre-arbítrio nada mais são do que a interação de um vasto conjunto de células nervosas...” (Revista Veja); considerando a consciência humana como algo cuja localização encontra-se no cérebro e que em um futuro bem próximo o mapeamento neural da consciência será feito, tal como está ocorrendo com o código genético de nosso organismo físico: na verdade o que temos são apenas hipóteses, quando não uma hybris da razão.
“Existe uma pergunta insidiosa que, nos últimos tempos, tem preocupado muitas pessoas e que parece não querer calar tão cedo: será que somos apenas nossos cérebros? Um punhado de genes em interação produzindo a ilusão de que temos um “eu”? O que terá restado da subjetividade?
Essas proposições são cada vez mais proclamadas pela mídia como conclusões científicas definitivas e não apenas conjecturas, e talvez seja isso o que nos inquieta mais. É da Neurociência que deriva a autoridade para sustentar essa visão e, nesse sentido, podemos dizer que atualmente ela é a disciplina científica que mais tem afetado a imagem que o homem tem de si. Dizer que o nosso “eu” nada mais é do que o metabolismo do cérebro tem consequências profundas, tanto do ponto de vista filosófico como do antropológico. Significa sugerir que uma questão filosófica milenar, o problema mente-cérebro, pode ser solucionada. Nossas mentes não seriam nada mais do que nossos cérebros. A imagem socrática do homem de uma alma aprisionada a um corpo, que herdamos nos últimos milênios de Filosofia, deveria agora ser abandonada.
(...). Queremos o conforto de uma cultura da resposta certa, na qual não existam brechas para a dúvida. (...). Estaríamos caminhando para uma Neurofilosofia, que estaria se tornando a ferramenta poderosa para extirpar a moléstia metafísica. Quem sabe, as próprias dúvidas hiperbólicas da Filosofia nada mais seriam do que estados cerebrais inoportunos, dos quais poderíamos nos livrar interferindo no metabolismo do cérebro, provavelmente por meio de drogas poderosas. Afinal, já existem drogas que induzem efeitos específicos, como é o caso das que produzem experiências religiosas. Não queremos mais ser incomodados por dúvidas insidiosas; o ideal da saúde, da mente sã, deve se sobrepor à busca por respostas a questões incômodas do tipo “o que somos? ”, “de onde viemos? ”, e “para onde caminhamos? ” (...). Mas as questões metafísicas têm se mostrado recorrentes. Elas sobreviveram às diversas demonstrações filosóficas de que são insolúveis. É o retorno do reprimido.”  (Teixeira, João Fernandes) http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/60/artigo220185-2.asp).
 E essa atitude, pois, metódica, de dúvida – que não significa permanente negação, mas liberdade de investigar oposta àquela posição que afirma e pensa que já descobriu – não pode ser outra, até porque em sua origem histórica a Filosofia e a Ciência surgiram por sentir profundamente o arcano e misterioso desse universo em que vivemos e a nossa condição humana dentro dele.
E dessa forma, se não conseguimos desenvolver uma religiosidade que, como um fator de proteção possa fazer nascer e mantenha sempre jorrando as fontes de resiliência desde nosso interior, constitui-se em um erro profundo – respondendo as questões propostas acima – a convicção de que o Nada é o que existe, ou pintar um quadro fabuloso sobre a vida após a morte: e tomar essas equivocadas certezas como suportes cognitivos para pretender se autoeliminar.
Ora, se não efetuamos a suspensão de conceitos, imagens e sentimentos prontos, quase sempre de cunho niilista, sobre a realidade da vida, e da vida após a morte, e não fazemos uma reflexão que nos leve a uma conclusão – que não pode ser outra – de que a realidade sempre será mais ampla do que os “quadros” que formamos dela... Enfim, se não escolhemos uma crença, permanecemos escolhidos pela dúvida.
Temos dúvidas e é útil que as tenhamos. Nas estações do trem de nossas vidas podemos nos movimentar para adiante, para alguma forma de crença e fé, mas não podemos retroceder para a estação da absoluta descrença. Porque pertencente à condição humana a dúvida é o mínimo insuperável. E na estação da dúvida ou incerteza não há como não descer. Das barreiras aí colocadas não há como ultrapassar.
Por conseguinte, mesmo que passemos pela vida sem fazer essas perguntas fundamentais, e o que é em termos filosóficos como ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir; ao fazê-las – e, sobretudo ao considerar a questão do suicídio em relação à vida após a morte – será preciso sempre considerar a advertência final a seguir:
“Para ser um bom filósofo deve-se ter o desejo forte de saber, combinado à grande cautela em acreditar que se sabe; também se deve possuir acuidade lógica e o hábito do pensamento exato. Tudo isso, claro, é uma questão de grau. A incerteza, em particular, pertence, até certo ponto, ao pensamento humano; podemos reduzi-la indefinidamente, embora jamais possamos aboli-la por completo”. (Russell, Fundamentos de Filosofia, p. 9).
Isso porque o ser humano é o único ser para o qual sempre se colocará como problema, o seu próprio ser. Daí a dúvida como estrutura constituinte de sua condição, porque diferente da pedra, do vegetal e do animal por mais profundo que ele se olhe não se vê; e por mais que venha a se conhecer, nunca saberá inteiramente de si.
             
Bibliografia
Botega e outros. Prevenção do comportamento suicida. PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 37, n. 3, pp. 213-220, set./dez. 2006).
Cassorla, Roosevelt M.S. O que é suicídio. São Paulo: Brasiliense, 1984.
Corrêa, H; Barrero, S. P. (org). Suicídio: uma morte evitável. São Paulo: Editora Atheneu: 2006.
Dias, Maria Luiza . Suicídio: testemunhos de adeus. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991.
Dostoievski, Fiodor. Suicídio, Sentido da Vida e Imortalidade, extraídos da coletânea Diário de um Escritor. Disponível em lutaaquariana.blogspot.com/2009/04/fiodor-dostoievski-050808.html.
Durkheim, Èmile. O Suicídio. São Paulo: Edt Martin Claret, 2002.
Feynman, Richard, O Significado de Tudo, Lisboa: Gradiva, 2001.
Jamison, K. R. Quando a noite cai: entendendo o suicídio. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.
Pondé, Luiz Felipe. Crítica e Profecia: a filosofia da religião em Dostoievski. São Paulo: Edt 34, 2003.
Revista Veja. Afinal, A Leitura da Mente. Editora Abril. Edição 2276 – ano 45 – nº 27 / Julho de 2012.
Russerl, Bertrand. Fundamentos de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
Teixeira, João Fernandes: Afinal, O que somos? Disponível em: http://filosofia da cienciavida.uol.com.br/ESFI/Edições/60/artigo220185-2.asp.
Teixeira, João Fernandes. Filosofia do Cérebro.  São Paulo: Edt Paulus, 2012.


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